20 de janeiro de 2008

Viagem a Darjeeling

Viagem a Darjeeling (2007), de Wes Anderson



Normalmente, as peculiaridades de Wes Anderson são subestimadas e dão-lhe a reputação de cineasta repetitivo. A forma como trata dos temas, geralmente depressivos, em tom de humor, se encontra presente em todos seus filmes, mas o que o torna tão especial, e muitos têm dificuldade de digerir, é a maneira como aborda suas obsessões, todo seu universo de elementos particulares nas mais diversas facetas. Em Viagem a Darjeeling, ele reúne três irmãos na Índia para uma peregrinação espiritual. Ou uma jornada cinematográfica inesquecível ao mundo de Wes Anderson.

Mas antes de falar sobre o filme em si, vale citar o ótimo curta metragem Hotel Chevalier que Anderson realizou com o personagem de Jason Schwartzman, Jack, funcionando como um prólogo do filme principal, explicando alguns detalhes sobre a obsessão de Jack por sua ex-namorada. Já no filme, ele se encontra com seus irmãos Francis (Owen Wilson) e Peter (Adrian Brody), na primeira classe de um trem para Índia. Juntos pela primeira vez desde o funeral do pai, Francis pretende fazê-los seguir um itinerário com o objetivo de reencontrar a mãe (Anjélica Huston), agora, uma freira de um convento no Himaláia. Porém, apesar das boas intenções, as velhas disputas familiares surgem quando Francis decide ter o controle de tudo.

Embora várias situações aconteçam fora do trem, é nele que o filme funciona melhor, quando os irmãos estão em seus compartimentos, andando pelos corredores, comendo no restaurante ou transando no banheiro com a empregada do comboio. É nesses momentos que os segredos são revelados, as tensões sobre as individualidades vêm a tona e ficam explícitos os sentimentos de cada um. São obrigados a refletir sobre a morte do pai e se vale a viagem para reencontrar a mãe. No entanto, Anderson perde um pouco o foco numa longa sequencia sentimental e desnecessária numa aldeia, mas consegue puxar de volta todo conjunto antes do desfecho, em especial numa inventiva sequencia em que todos os personagens são mostrados em um espaço hipotéticos assimilados a vagões de trem.

Wes Anderson sempre terá detratores que não conseguem levantar um sorriso para sua obra. Mas há aqueles que entram perfeitamente na sua onda e percebem que a utilização recorrente dos aspectos visuais e comportamentais devem ser aproveitados como forma de experiencia. O cinema de Anderson é apenas um contar de história que aponta para interação humana, de como nosso comportamento pode ser cômico mesmo nas mais graves das situações.

por ronald