14 de abril de 2008

Road Movie existencialista

Two-Lane Blacktop (1971), de Monte Hellman: Tentei escrever pouco sobre o filme, mas quando comecei, percebi que não dava pra tratar desta obra prima do cinema americano de forma tão superficial. Não que minha análise seja densa, nem tenho capacidade pra tanto, mas ficou um pouco mais detalhado que de costume.

Logo no início somos apresentados ao piloto e seu mecânico (assim são mencionados nos créditos), personagens que vivem nas estradas dirigindo um Chevy 1955 realizando pegas pra ganhar um trocado. Vivem num universo particular dos carros possantes, da fumaça dos carburadores, dos roncos dos motores e das corridas clandestinas, cujos carros são modificados minimamente para um melhor desempenho.

Este universo é quebrado com a entrada de outros dois personagens em cena. A garota sem destino que viaja com eles de carona e GTO, vivido por Warren Oates, um sujeito que corre pelas estradas dando carona às pessoas e inventando histórias. Eles decidem apostar uma corrida até Washington DC. É durante esse trajeto e seus contratempos que Monty Hellman estrutura a narrativa.

A trama é bastante simples e a tal corrida é o que menos importa para o diretor. O foco se encontra em seus personagens, o cotidiano e a catarse do universo particular. É interessante como a mesma maneira que transformam seu carro minimamente para o desempenho, acaba refletindo no relacionamento limitando-os também em falar somente o mínimo, o essencial. quase não acontece diálogos entre os dois e quando ocorre, 90% é sobre carros. Warren Oates, um dos meus atores preferidos desta época, tem aqui uma de suas melhores performances e é engraçado como assume várias personalidades a cada passageiro que pega carona.

Hellman é um diretor que não filma espetáculos. Não esperem ver aqui cenas grandiosas de carros em disputas de alta velocidade em ritmo de videoclip. Hellman filma o espaço. Ou melhor, a ação dentro do espaço. É o que torna Two-Lane Blacktop tão essencial. A forma como o cineasta captura as imagens com poesia espacial que define a profundidade do campo de ação sem precisar mexer um centímetro de câmera. E ainda há o final emblemático, a película que queima, o destino indefinido que os aguarda.