20 de novembro de 2011

Tomboy + The Rural Alberta Advantage



Há, definitivamente, um quê andrógino na figura mirrada de Laure -- protagonista do vencedor do Teddy Award do Festival Internacional de Berlin (e do prêmio do júri de melhor longa do Festival Mix Brasil de Cinema da Diversidade Sexual, este, no último final de semana). A pequena acaba de mudar-se com seus pais e irmã mais nova para o bairro de um subúrbio francês, e ao ser confundida com um meninote por sua nova vizinha, Lisa, começa a fazer o jogo ao apresentar-se como Michaël, levando a mentira até onde o braço alcança e assumindo, de gruja,  consequências engraçadas e às vezes bem desconfortáveis.

Tomboy (que do inglês é algo como "Maria-João", menina com trejeitos masculinos) é o segundo da diretora francesa Céline Sciamma, e segue quase a mesma linha do seu primeiro, Water Lilies, trazendo a tona questões sobre a exploração da sexualidade feminina nesse contexto homosexual. Digo quase, justamente por Tomboy ser uma espécie de retrocesso, ao menos cronologicamente, entregando um personagem para quem a sexualidade é praticamente zero. E isso fica claro quando o corpo assexuado de Laure é exibido, deixando evidente que, na idade dela, a divisão entre sexos é uma linha tênue e quase inexistente. A fotografia de cores simples se junta ao tom documental, latente em toda a produção -- consigo até enxergar a referência a Luc e Jean-Pierre Dardenne -- fazendo a transição do mundo fechado e inóspito dos vestiários e piscinas de seu filme anterior para ambientes mais etéreos e bucólicos de bosques e lagos, tudo isso misturado a uma política de "menos é mais". Há uma sensação de intimidade e proximidade do elenco incríveis que corroboram a criação de uma verdadeira crônica viva e absurdamente natural,  suave e ao mesmo tempo sagaz em retratar as experiências da tenra idade.

Aliás, "natural" é um adjetivo que se repete ao longo de toda a projeção. Dentre outros aspectos fantásticos do filme, a interação do elenco, e principalmente, a direção dos pequeninos, todos desconhecidos e praticamente não-profissionais, é impecável! A naturalidade das cenas entre Laure e Jeanne (a lindíssississima Malonn Lévana, que dá vontade de apertar toda vez que ela surge na tela) é qualquer coisa de absurdamente linda.

O filme está longe de ser polêmico, entregando argumentos para influenciar ou mudar a atitude de outrem. Tomboy é mais um retrato emocionante do que significa ser pego fora das normas, sobre aventuras inocentes, sobre se apaixonar por algo impossível. Adorável.


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O trio é canadense. Nils Edenloff, Amy Cole e Paul Banwatt causaram certo burburinho no cenário alternativo com seu álbum de estréia, Hometowns. A voz bastante característica de Edenloff, a bateria frenética de Paul Banwatt e a doçura dos vocais de Amy Cole nos jogam algumas influências do tipo Neutral Milk Hotel, mas com características muito próprias, autênticas.


Este quase EP é o registro de um show realizado em março deste ano, onde a banda alterna entre a energia e intensidade de Hometowns e a pegada leve e bucólica de seu segundo disco, Departing. O som é digníssimo, com melodias que empolgam e emocionam na mesma proporção. E isso, meninos e meninas, é prova inegável de que a banda tem muito pra tornar-se grande; seja com um som mais energético, seja com baladinhas low-profile. =)

Serviço:

Live @ The Phoenix

01. Muscle Relaxants
02. Tomado '87
03. Edmonton
04. Frank, AB
05. In The Summertimes
06. Stramp
07. Bames' Yard
08. Drain The Blood
09. The Dethbridge in Lethbridge