14 de março de 2006

Garden State e THX 1138

Garden State



EUA, 2004. DE Zach Braff. COM Zach Braff, Natalie Portman, Ian Holm, Peter Sarsgaard. 102 min. Buena Vista. COMÉDIA.

Quando visitou o Brasil em 2002 para divulgar a série Scrubs, o ator Zach Braff, que vive o bocó doutor J.D., era o mais distante entre seus colegas de elenco. Em todas as fotos de divulgação era notável: ele parecia definitivamente estar com a cabeça longe da obrigatória viagem de divulgação. Ao menos agora já se sabe o que ocupava a cabeça do bonito além do jet lag: a incursão no cinema como realizador independente - é ele quem assina, dirige e atua em Garden State, filme com toques de comédia dramática e romântica e que foi a sensação do Festival de Sundance em 2004. Como cineasta de primeira viagem, Braff - que está em The Last Kiss, do também ator Tony Goldwyn e roteiro do oscarizado Paul Haggis - cede a vícios de diretor moderninho (personagens excêntricos, câmera ora acelerada, ora lenta, a seleção musical pop-alternativa), mas realiza uma obra honesta e que aponta para um futuro deveras promissor.

Zach Braff vive Andrew Largeman, um aspirante a ator em Los Angeles que se sustenta como garçom. Sua rotina pe servir mesas, fazer testes e se intupir de lítio e outros remédios receitados por seu pai psicanalista (Holm), com quem não fala há anos. Largeman vive uma existência de zumbi, num limbo de drogas que ele resolve deixar para trás qo retornar para casa por ocasião do enterro da mãe. Longe dos medicamentos, Largeman recupera o contato social com amigos de juventude (como o coveiro vivido por Sarsgaard) e ainda se envolve com uma menina tão desajustada quanto ele (Portman, desajustada, mas bela, sempre) – ou seja, o rapaz sente gosto por voltar a viver e toma coragem para confrontar o pai, que o mantém medicado por conta de um trauma de infância.

O filme em si é sobre a falta de comunicação entre pai e filho e o quanto isso pode tolher as duas vidas em questão. Ainda assim, Braff deixa o conflito de Andrew e o pai para segundo plano, preferindo mostrar o acordar para a vida do protagonista. Nuna seqüência, o diretor cita outro personagem castrado pelo pai, o Cameron do eterno Ferris Bueller’s Day Off, ao mostrar Largeman dormindo em um quarto todo branco com uma secretária eletrônica ao lado – exatamente a mesma cena do clássico dos anos 80. São momentos bem sacados como esse que deixa claro que Zach Braff tem talento para contar histórias.

Por Felipe Mappa


THX 1138



EUA, 1971. DE George Lucas. COM Robert Duvall, Donald Pleasence, Maggie McOmie. 88 min. Warner. FICÇÃO CIENTÍFICA.


O mundo criado por George Lucas em seu primeiro longa metragem é assustador. Apesar de ser um filme futurista, Lucas afirma que filmou THX 1138 (1971) imaginado como uma metáfora para o modo de vida na época (inicio dos anos 70). o cinema americano passava por um período de mudança. os jovens diretores tinham que sair do sistema hollywoodiano para realizar algo criativo e experimental, o que é o caso do jovem Lucas e de diretores como Steven Spielberg, Francis F. Coppola, Martin Scorsese, Brian de Palma, etc. Junto com Francis F. Coppola, o diretor de Star Wars fundou a produtora Zoetrope e assim nasceu a esperança de THX 1138.

O filme conta a história de THX 1138, vivido por Robert Duvall, um cidadão simples que vive numa sociedade no qual a mente e o corpo são controlados pelo governo. O controle é feito através de poderosas drogas que são obrigatórias para todos os cidadãos. Além disso, qualquer forma de liberdade e amor são crimes gravíssimos. Há algumas mensagens tiradas dessas situações como a questão de liberdade, mas não esperem nada forçado como em Coração Valente, por exemplo. As mensagens estão lá para serem percebidas e não expostas.

Uma das proezas do filme é a excelente direção visionária de George Lucas, experimentando várias técnicas e enquadramentos dando um belo tratamento de imagem. Sua visão de futuro é simples e minimalista, em alguns momentos o cenário é um branco total e todos os habitantes deste futuro possuem as cabeças raspadas. Seus filmes subseqüentes foram mais aceitos pelo publico, porém THX 1138 é, de longe, o seu melhor trabalho (sim, melhor até que a série de Star Wars, pelo menos pra mim...) e foi redescoberto graças aos aprimoramentos digitais de restauração e o lançamento em DVD no Brasil, ano passado, numa versão dupla e recheada de extras.
Por Ronald Perrone