9 de março de 2006

Os Pássaros e Match Point

Carnaval supimpa. Surpresas no Oscar. Correria (bem, essa é costumeira). Sejam bem-vindos à 2006!

felipe, editor especial cine art


---


Os Pássaros



The Birds, USA, 1963. DE Alfred Hitchcock. COM Tippi Hedren, Rod Taylor, Jessica Tandy, Veronica Cartwrigh. 119 min. Universal. SUSPENSE.

Como uma história tão absurda como a do filme Os Pássaros, pode ser tão importante para o processo cinematográfico e ainda, para a história do cinema?

Numa pequena cidade, Bodega Bay, ao norte de São Francisco, pássaros de várias espécies declaram guerra à humanidade. E como pano de fundo, uma historinha de amor entre dois personagens em meio a toda situação.

Porém, não é nessa história que está a atenção principal. É o que está por trás dela, nos detalhes técnicos e nas imagens puras e simples. As situações fenomenológicas acontecem, e pronto. Isso é o cinema. Isso é Hitchcock em busca do seu processo próprio, sem influências.

Os Pássaros é um espetáculo sem limites a cada plano. Sem a utilização de qualquer trilha sonora durante toda a projeção, Hitchcock cria um ambiente realista, com personagens definidos em meio a uma situação absurda, porem, sem divagar metafisicamente nem arranjar explicações. Os pássaros são pássaros e só. Hitchcock posiciona sua câmera em lugares fora do comum e a cada take é uma revelação que cria cenas antológicas como:

a) O ataque dos pássaros após a explosão do posto de gasolina. Brilhantemente conduzida por Hitchcock, que inicia a cena num incrível panorama subjetivo dos próprios pássaros. b) O ataque brutal dos pássaros em Tippy Hayden no sótão. c) O magnífico e inesperado final apocalíptico no silencio das aves.

Os Pássaros é um desses filmes que estão na linha de frente na filmografia de Alfred Hitchcock como Janela Indiscreta, Um Corpo que Cai, Rope e Psicose. Um clássico absoluto do mestre do suspense.
Por Ronald Perrone


Match Point

e 1/2

Inglaterra/Luxemburgo, 2005. DE Woody Allen. COM Jonathan Rhys-Meyers, Scarlet Johansson, Emilly Mortimer, Brian Cox, Mathew Goode. 124 min. Playarte. DRAMA.

Nada como uma mudança de ares. Woody Allen, ao deixar Nova York, seu cenário preferido, também abandonou a inércia que pareceu tomar conta de seus últimos filmes – apesar de Melinda e Melinda ter faíscas do velho diretor. Em Londres, Allen se vestiu de Alfred Hitchcock para compor um grande thriller sobre desejo, ambição, acaso e discrepância cultural – todos os ingredientes que o cinema britânico ama e constrói com perfeição.

Não seria incorreto afirmar que Match Point é um filme anti-Wood Allen: por mais que já tenha usado de narrativas de suspense em seus trabalhos (Tiros na Brodway sendo o mais notável, que eu me lembre) o diretor agora se despe de longos diálogos sobre relacionamentos para testemunhar as (in)conseqüências de uma paixão arrebatadora e proibida. Para conseguir isso, abusou da sua técnica limpa (a direção é tão leve que até parece fácil) e de um elenco perfeito.

Rhys-Myers é Chris, um tenista que nunca alcançou o topo e decide ensinar o esporte num clube de ricaços londrinos. Lá conhece Tom (Goode) e sua irmã (Mortimer, ótima), com quem se casa, sem nunca ficar muito claro a importância da situação financeira no meio. Formando o quadrilátero amoroso, Scarlett Johansson (deliciosa como sempre) é a noiva de Tom, uma candidata a atriz que atrai as atenções de Chris.

Match Point segue, a partir daí, um passo cômodo e sempre inesperado até culminar num final que somente poderia sair da mente do Allen engraçado e trágico que aprendemos a admirar.
Por Felipe Mappa