22 de junho de 2006

Cars e Cartas de Uma Desconhecida

Apresento a vocês a nova aquisição do cineart: Victor Marculano, aka Monsenhor. Em sua primeira empreitada (primeira mesmo), ele fala sobre a nova animação da Pixar. Bem-vindo ao clube, Monsenhor!

ronald perrone, editor cine art

Carros

e ½

Cars, EUA, 2006. DE John Lasseter. COM AS VOZES DE Owen Wilson, Paul Newman, Tony Shalhoub. 116 min. Disney. ANIMAÇÃO/COMÉDIA.

A pedidos do meu grande amigo Ronald, venho me envergonhar publicamente com uma crítica de minha autoria sobre a animação da Disney com seu mais recente adquirido estúdio de animação, a Pixar. Como não poderia deixar de ser, assim como todos os filmes de animação da Disney, seja animado em Computação Gráfica ou no famoso "desenho", essa animação, Cars, tem como público alvo, as crianças. É um filme para toda a família, e com a velha tradição Disney de passar aquele "sermão", trazendo sempre uma lição de moral. E a lição do filme não poderia ser mais "batida". O valor da verdadeira amizade e o amor por aqueles que te respeitam. E tendo um tema clichê, como esse, o roteiro também não poderia ser brilhante. Muito pelo contrário. Com o excelente trabalho que a Pixar fez em Os Incríveis, era até se esperar que Cars seria outra pérola. A meu ver, é só mais uma perolazinha no meio de tantas outra formando um extenso colar. E exatamente como uma pérola, a animação é visualmente belíssima. A mais bela que já vi até hoje. Superando animações como Final Fantasy Advent Children, da Square Enix e dirigido por Tetsuya Nomura. Cars conta com uma animação extremamente detalhada. Chega a ser absurdo detalhes como aqueles pequenos riscos circulares na lataria do carro (das tradicionais esfregadas ao lavar o carro), ou também minúsculas pedrinhas na estrada. O mais belo cenário do filme é o deserto onde se localiza a estrada Route 66, onde se passa a história do filme. O nível de detalhamento do deserto é extremo ao ponto de esquecemos que se trata de uma animação com carros falantes, e acharmos que tudo aquilo é real. Deveras, com um orçamento milionário de pouco mais de 70 milhões de dólares, e alguns anos em desenvolvimento, o filme tinha a obrigação de ser bonito. Mas penou grandiosamente em trazer uma história fraca, chata em certos momentos, e até mesmo sem graça. Achei muito estranho o fato do filme ter me arrancado somente duas risadas durante sua extensão. Tendo em vista que os lançamentos anteriores da Pixar possuem cenas hilárias a todo momento. Não só um humor mais apurado fez falta no filme. Assim como emoção. Adrenalina. Aquela ansiedade de que o herói chegue ao final do filme e dê tudo certo. É quase inexistente no filme. A não ser por algumas cenas nas pistas ovais da Nascar. As dublagens ficaram boas. Algumas até engraçadas, como a da caminhonete amiga do herói do filme. Mas também não foi nada de excepcional. Pois bem. É o tradicional filme da Disney, feito para toda a família, sem ofender inteligencia de nenhum espectador. Mas também sem surpreender nenhum deles. Não é imperdível. Mas se tiver a chance assista. O belo visual do filme compensa algumas falhas.
Por Monsenhor


Cartas de Uma Desconhecida



Letter From An Unknown Woman, EUA, 1948. DE Max Ophüls. COM Joan Fontaine, Louis Jourdan. 86 min. Versátil. DRAMA.

"Cada um de nós é vencido apenas pelo destino que não soube dominar." A frase, de Stefan Zweig, é uma síntese perfeita para o sentido desta fita extraída de um pequeno livro do famoso escritor austríaco que se suicidou no Brasil em 42, aos 61 anos. Nos permite compreender melhor os encontros e desencontros dessa história de amor com final surpreendente, mas extremamente coerente com a frase. Essa segunda realização americana do alemão Max Ophüls começa em uma noite de 1900, na Viena imperial, quando o festejado pianista Stefan (Jourdan), ao chegar melancólico em sua casa, recebe uma carta. Nela, uma mulher chamada Lisa (Fontaine) relata as aventuras e desventuras de sua vida desde que o conheceu, ainda adolescente e casta, até os dias atuais - então já uma senhora casada com um nobre. Um longo flashback que expõe com notável grandeza dramática a fragilidade humana, seja ela coberta de arrogância e leviandade, seja de candura e ingenuidade. Tudo sob a direção ao mesmo tempo elegante, cálida e perspicaz de Ophüls, mestre na movimentação da câmera. Ele sempre impressionava com o seu refinado formalismo. Nas três fases narrativas, Fontaine consegue ser uma Lisa embravecida, sensual e maternal. Um desempenho crível, um ótimo contraponto para a presença sedutora e imprudente imposta pelo francês Louis Jourdan. A bela fotografia em preto-e-branco de Franz Planer e a música de Daniele Amfitheatrof são elementos decisivos para o clima fatalista e passional dessa obra-prima de Max Ophüls. Um dos melhores melodramas de todos os tempos.
Por Felipe