4 de maio de 2006

16 Quadras e Brødre

16 Quadras



16 Blocks, EUA, 2006. DE Richard Donner. COM Bruce Willis, Mos Def, David Morse. 105 min. Alcon. AÇÃO.

Há muito que eu não ficava motivado em assistir um filme de ação (o ultimo foi Sin City. É, não foi há tanto tempo assim, mas quem não ficou animado pra ver os quadrinho de Miller na telona?). 16 Quadras apareceu de repente em outdoors, é estrelado por Bruce Willis e dirigido por um dos grandes responsáveis por filmes de ação dos anos 80, Richard Donner (Máquina Mortífera), que estava meio sumido e seus últimos filmes, fiascos. Os comentários que surgiam era que o cinema de ação oitentista voltava à tona no filme. Realmente 16 Quadras surpreende no seu inicio, com uma premissa simples, mas interessante. Um policial (Willis) tem o dever de escoltar um preso por 16 quadras até o tribunal para depor. Porém esse preso é uma peça chave de um julgamento e seu testemunho pode acabar com um poderoso esquema de corrupção. Donner consegue segurar a tensão muito bem, dosando com cenas de ação. Bruce Willis faz o papel de um policial velho e manco. Muitos o comparam com Hartigan, personagem de Sin City. Minha opinião é que lembrou mais de Joe Hallenbeck, do filme O Ultimo Boy Scout. Enfim, Willis está excelente com seu personagem e mais acabado do que nunca. Aceitou bem a velhice.
Em determinado momento, o filme se perde e não consegue se achar até o seu final. Vira um filme como outro qualquer e evapora o diferencial que conseguia manter no começo. No lugar da ação, entra uma tentativa de se aprofundar nos personagens, principalmente no de Eddie (Mos Def), o preso escoltado. Um personagem super irritante. E esse aprofundamento é um detalhe que, realmente, Donner não saber fazer. Num piscar de olhos, 16 Quadras passa de um ótimo policial para um filme banal. O final é dos mais simplórios. Mas foi quase. Não deixa de se conferível. Quem sabe da próxima, Sr. Donner?
Por Ronald


Brødre



2004, Dinamarca. DE Susanne Bier. COM Connie Nielsen, Ulrich Thomsen, Nikolaj Lie Kaas. 110 min. Focus. DRAMA.

“Não filmarás em cenários”, “não incluirás trilha sonora”, “não utilizará filtros e efeitos ópticos”, “a obra nunca trará o crédito do diretor”, e blá-blá-blá... Há pouco mais de dez anos, a dupla de dinamarqueses von Trier e Vintemberg lançava o Dogma-95 – espécie de manual de castidade cinematográfico composto por essas quatro regras, além de outras seis. A reedição estética dos dez mandamentos servia para diretores avessos à infantilização do cinema e uma acentuação do quesito verdade em suas fitas. Neste mar de inovações estéticas, a também dinamarquesa Susanne Bier foi uma das convertidas e teve em seu Corações Livres o selo de autenticidade. "Agora", ela retorna com Brødre, que a exemplo do seu longa anterior, não segue ao pé da letra a tal fórmula. Como Corações Livres, Brødre é um meio-drama construído sobre um triângulo: Michael (Thomsen) é um militar enviado a uma missão no Afeganistão, na qual o helicóptero em que ele viaja é abatido e ele é dado como morto. Seu irmão Jannik (Kaas), ex-presidiário e ovelha negra da família, passa a ocupar seu lugar no coração das sobrinhas e da cunhada, Sarah (a bela Conie Nielsen). Até que...

A primeira parte, que culmina no acidente, é filmada com uma boa economia nartrativa, sem descrições chatas e culmina numa bem-sucedida crítica política ao mostrar simplesmente a realidade afegã em paralelo à dinamarquesa. Até aí pareceum filme duro e carregado de desespero, mas nuançado, e as expectativas são as melhores. Já na segunda parte, a diretora investe no que talvez seja sua maiot habilidade - a direção de atores. O resultado, porém, desloca todo o eixo do filme para o psicológico e converte o que até então constituía uma forte parábola moral em um drama psicológico matrimonial bem conduzido, sem dúvida, mas onde as qualidades se dispersam. O tom distanciado e não dramatizado da abertura cede espaço ao uso ostensivo da câmera na mão. O que antes era autêntico, aqui parece nervosismo, o que muitas vezes pode ser confundido com um tique.

Fiéis ou infiéis, o que os filmes de Susanne (e tanto de seus colegas) comprovam é que, se há uma verdade a ser alcançada pelo cinema, esta independe de fórmulas.
Por Felipe