7 de fevereiro de 2006

Brokeback e Syriana

Brokeback Mountain

e 1/2

EUA, 2005. DE Ang Lee. COM Heath Ledger, Jake Gyllenhaal, Michelle Williams, Anne Hathaway. 134 min. EUROPA. DRAMA.

Eles não comem pudim. Também não se ligam em Edson Cordeiro ou mostram interesse pelas últimas cores da moda. Não. Brokeback... é menos romance gay e mais sobre as ilusões amorosas que nos acometem. É, eles se beijam, fazem sexo, trocam afagos e juras de amor. Mas Ang Lee os fez parecer muito mais com os gregos (que tinham na homossexualidade, digamos, um nível a mais na amizade) que com os gays estereotipados já mostrados no cinema.

É chato dizer, mas o modo com que o filme procura discorrer sobre o amor homossexual foi motivo de chacota da platéia (formada em grande parte pelo público homossexual), que ria ironicamente e fazia comentários maldosos – a maioria tinha como alvo as moças do filme -, em suma, não levavam o filme a sério, e creio que nem se o Cristo descesse à Terra o levariam. Mesmo com a ironia do dito “público alvo”, o novo filme do diretor chinês decola. Brokeback Mountain é uma história de amor, independentemente do que se vê na tela, e que, diga-se de passagem, é de uma veracidade espantosa.

Com material de primeira em mãos - um roteiro adaptado do conto da premiada Anne Proulx -, e com a primorosa direção de Ang Lee, todo o jovem elenco entrega fortes atuações: Anne Hathaway tem uma ótima transformação, distanciando-se do estigma da bonequinha de porcelana; Michelle Williams se desfaz das vias de Dawson’s Creek e faz de seu personagem uma das boas atrações do filme; o ótimo Gyllenhaal entrega uma atuação tridimensional com o seu eloqüente Jack; e a grande surpresa - Leadger. Juro que não sacava a do breve momento hype que o australiano ganhou nos anos 90, mas na pele do tímido Ennis só reforça a tese de que o ator não tinha ainda encontrado um papel a altura do seu talento.

O choro do espectador é preterido em lugar de uma pontada aguda de tristeza, uma farpa difícil de tirar e que incomoda para dedéu. Entretanto, o filme não é perfeito. Após a construção do relacionamento dos personagens, a segunda metade se move depressa demais, se comparamos com o ritmo adotado no início. Mas é pouca a queixa para o filme do diretor de Hulk, que tem a razão e a sensibilidade para lhe jogar na cara, assim, sem pudor, a certeza de que não só os brutos héteros também amam.
Por Felipe Mappa


Syriana



EUA, 2005. DE Stephen Gaghan. COM George Clooney, Matt Damon, Christopher Plummer, Jeffrey Wright, Chris Cooper. 126 min. Warner. DRAMA/THRILLER.

Syriana vem chamando a atenção no mundo inteiro com seu tema altamente político e atual. O filme foi escrito e dirigido por Stephen Gaghan, o mesmo roteirista de Traffic (2000), de Steven Soderbergh. Daí, já se pode tirar certas conclusões de como o filme será. Não é preciso nem assisti-lo pra saber que a narrativa é cansativa, há em abundancia um grande numero de personagens. Com tanta gente num mesmo filme, foi preciso de pelo menos uns 50 min para apresentá-los e mostrar ao expectador suas funções, motivos e situações que fazem cada personagem agir e existir. Funciona em muitos filmes quando contém uma narrativa ágil, como em Magnólia (1999) de Paul Thomas Anderson. Em Syriana, um filme lento, extremamente realista, não funciona e vários personagens parecem perdidos e fazem confundir a cabeça do espectador deixando a impressão de uma história confusa, mesmo que o roteiro não seja tão complexo assim.

Dentro de tantas histórias, a única que desperta maior interesse e que abrange maior quantidade/qualidade de situações é a do personagem Robert Baer, vivido por George Clooney, em uma ótima atuação e que vem recebendo elogios por todos os lados. Ele faz o papel de um agente da CIA que investiga terroristas no pelo mundo e que descobre falhas de investigações e interesses de sua própria companhia.

O filme apresenta temas atuais que enriquecem a trama explorando a Guerra das indústrias e dos governos pelo petróleo, atos terroristas e homens bombas e a situação de países do Oriente Médio. Apesar de todos os contras, Syriana não deixa de ser interessante ao final. Porem não vai fazer diferença lá na frente, quando for mais um filme político.
Por Ronald Perrone