18 de julho de 2008

Amantes Constantes


Amantes Constantes (2005), de Philippe Garrel

Finalmente parei pra assistir o maravilhoso Amantes Constantes, filme de 2005 do francês Philippe Garrel. Embora seja o único filme acessível do diretor aqui no Brasil atualmente, Garrel iniciou sua carreira lá nos anos 60 com um estilo bastante peculiar ficando conhecido como um enfant terrible do cinema francês. Já consegui outros filmes do diretor via downloads pela internet, mas por enquanto fiquemos com os Amantes Constantes, uma belíssima obra de arte que me surpreendeu muito pela sua qualidade técnica e ousadia.

É uma experiência cinematográfica das mais significantes acompanhar este épico de quase três horas de duração sobre as manifestações de maio de 1968 em Paris vista pelo ponto de vista de vários personagens, mas em especial de um poeta vivido pelo filho do diretor, o ator Louis Garrel. Apesar de servir como excelente registro das manifestações, Garrel acaba desmistificando a representação do jovem revolucionário que após os momentos de revolta, são apresentados como pessoas de esperança duvidosa, ociosas e drogadas vivendo numa furada idealização artística.

Um dos principais atrativos é a riqueza visual filmada num preto e branco expressionista pelas lentes do cinematógrafo William Lubtchansky e, por vezes, acompanhada do piano minimalista de Jean-Claude Vannier recriando de forma realista e cristalina não só a ambientação de um período passado, mas uma narrativa quase documental sobre os desdobramentos das situações vividas naquele momento, principalmente o tratamento dado ao amor que nasce entre o poeta e a escultora nesse universo.

A câmera de Garrel trabalha admiravelmente acompanhando as evoluções sentimentais das quais os personagens se entregam, não somente os dois pombinhos, que é o maior leitmotiv da narrativa, mas todos os personagens em questão em suas andanças, conversas vazias, festas monótonas regadas de ópio e na dança alucinante ao som do The Kinks até chegar ao desfecho alegórico, melancólico e perfeito. O ritmo lento e a duração podem desagradar o espectador desavisado, mas é de uma ousadia grandiosa, já que dificilmente vemos nos dias de hoje um diretor com coragem de lançar um filme de três horas de duração, preto e branco e poeticamente lento como Garrel faz em Amantes Constantes.