16 de maio de 2006

Estrela Solitária e Caché

Estrela Solitária



Don't Come Knocking, França/ Alemanha/ USA , 2005. DE Win Wenders. COM Sam Shepard, Jessica Lange, Tim Roth, Eva Marie Saint. 122 min. Sony. DRAMA.

Em 1984, Win Wenders nos presentearia com o que seria o melhor filme da década (minha opinião, claro!). O filme em questão é Paris, Texas e foi escrito pelo ator Sam Shepard e recebeu a Palma de Ouro em Cannes. Mais de duas décadas depois, os dois se reuniram novamente e o resultado foi Estrela Solitária, uma fita que pode muito bem servir de alavanca para Wenders e Shepard se reerguerem. O filme vem recebendo vários elogios da critica e também do publico mais alternativo. De fato é o melhor filme da carreira de Win Wenders desde Asas do Desejo (1987), fora, é claro, o documentário Buena Vista Social Club (1999), e Sam Shepard já estava no meu esquecimento com suas pontas em filmes comerciais. Em Estrela Solitária, além de escrever o roteiro, Shepard estrela no papel de Howard Spence, um ator que brilhou fazendo westerns, mas se afundou no mundo das bebidas, drogas e mulheres. Com a descoberta de um filho que possivelmente ele teria com uma mulher que não vê há trinta anos, Howard parte ao encontro desse filho que ainda não conhece, porém o principal objetivo dele é reavaliar a sua vida e encontrar a si mesmo.

Win Wenders ainda é um diretor que possui uma excelente técnica de direção. Consegue ótimos enquadramentos e movimentos que deixam o filme belo visualmente com a ajuda de uma excelente fotografia de cores fortes e uma ótima trilha sonora. Porém, isso não é tudo para um filme dar certo. Falta profundidade e essência necessérias para que Estrela Solitária tivesse um efeito maior e fosse um filme mais poderoso. Quase tudo soa muito artificial e mesmo com a boa atuação de Shepard, alguns momentos não funcionam. E é nessa parte que Wenders peca e é onde mostra o que ele esqueceu nesses vinte anos. Já que, Paris, Texas é um ótimo exemplo de filme que possui uma profundidade e um realismo significativo. Mas Estrela Solitária não é um filme ruim e vale a pena rever as belas cenas criadas por Win Wenders, o que eu não acho justo é comparar essa obra irregular com a obra prima que Wenders fez em 1984.
Por Ronald


Caché



França/Áustria/Alemanha/Itália, 2005. DE Michel Haneke. COM Juliete Binoche, Daniel Auteuil, Maurice Bénichou, Lester Makedonsky. 117 min. California Filmes. DRAMA/THRILLER.

Se você acha que o picareta do Lars von Trier é o maior gênio atual da Europa, só pode ser porque você não assistiu a nenhuma obra do austríaco Michael Haneke. Haneke não somente tem mais currículo (vai uma listinha básica: Funny Games – Violência Gratuita e Código Desconhecido - este último eu vi há pouco tempo) e contundência que seu colega dinamarquês. Caché carimba esta tese de maneira clara: ele subverte o gênero de suspense para entrar com uma voadora no peito do sistema social francês, país adorados pelo intelectuais (e pseudo-intelectuais também), porém nunca analisado com imparcialidade pelos mesmos. O diretor/roteirista previu a ebulição do caldeirão racial de Paris ao brincar com um casal (Binoche, sua musa, e Auteuil, ótimo), que começa a receber fitas de vídeos esquisitas. O marido, crítico literário famoso, busca no passado as razões de estar sendo vítima de um joguete e termina relembrando de situações vergonhosas que o levam à periferia multiétnica da capital francesa. Cachê toca numa das mazelas que poucos notam existir e nem se preocupa com respostas. Haneke só quer provocar. E consegue.
Por Felipe