25 de julho de 2008

Cinzas Que Queimam

Cinzas que Queimam (1955), de Nicholas Ray

Ray faz dois filmes dentro de um em Cinzas que Queimam. Logo no início, somos apresentados ao protagonista, o único de três policiais que se arruma para mais uma jornada de trabalho sem ajuda de uma esposa. Ele se arruma sozinho, não tem mulher nem filhos, é o policial solitário e amargurado pelo passado, típico herói do noir. A primeira metade de projeção, onde o tal policial, vivido por Robert Ryan, investiga um crime, o diretor constrói às bases do noir, com direito a todos os elementos caracteristicos, muitas ruas escuras, sombras estilizadas e uma direção primorosa que chega a utilizar de forma inusitada a câmera na mão em algumas seqüências. Até aqui já teríamos material suficiente para um ótimo filme.

Mas a instabilidade emocional do próprio personagem faz com que a narrativa tome outra direção e vá parar num cenário campestre, uma paisagem coberta de neve onde o policial é enviado e inicia ali um novo caso, uma outra investigação e um outro filme. Gradativamente, o noir já estabelecido cede lugar para um romântico melodrama policial com a entrada em cena de Ida Lupino, uma cega cujo irmão é procurado por um crime e por quem o policial se apaixona (pela mulher, não o irmão) e acaba revendo seus conceitos éticos na maneira de agir.

Essa catarse faz muito bem ao filme, que foge às regras do noir tradicional e torna-o belo. Ray possui domínio tanto nos ambientes urbanos sufocantes, quanto nas paisagens campestres a céu aberto. A direção de atores é ótima, eles próprios estão muito bem, principalmente Ida Lupino. Aliás, ela chegou a dirigir algumas cenas enquanto o diretor esteve doente, algo que não faz muita diferença no resultado, já que tudo funciona perfeitamente, até mesmo o final otimista imposto pelo estúdio.