16 de fevereiro de 2006

Boa Noite e Boa Sorte e Wolf Creek

Boa Noite, e Boa Sorte



Good Night, and Good Luck, EUA, 2005. DE George Clooney. COM David Strathairn, Robert Downey Jr., Patricia Clarkson, Jeff Daniels, George Clooney, . 93 min. Warner. DRAMA.

George Clooney é o queridinho do momento em Hollywood. Boa pinta, um ator competente e agora, um bom diretor e roteirista. Na verdade, eu prefiro Clooney atrás das câmeras do que à frente delas. Em Boa Noite, Boa Sorte, Clooney explora os bastidores do programa See it Now da CBS na época que o Senador MacCarthy enxergava comunistas para todos os lados realizando a famosa “caça às bruxas”, o que ficou conhecido como Marcathismo.

Apesar do resgate histórico e até mesmo importante, Clooney realiza um filme que já não nos interessa. Principalmente para nós, brasileiros, no qual, quase ninguém ouviu falar de Edward R. Murrow (David Strathairn). As situações vividas pelo personagem real acabam sendo mais ousadas que o próprio filme, ou seja, eu não diria que Clooney criou um filme ousado ou algo desse tipo. Se o filme fosse feito na época, teria mais impacto, mas chega, eu já estou divagando. Se uma análise mais profunda for praticada, é possível que se note um tom de crítica do jornalismo atual, a censura e pererê pererê, nada que esteja muito exposto.

Além disso, Clooney não consegue explorar com profundidade seus personagens. Nem mesmo o protagonista, limitande-se em apenas ser direto e objetivo. Há uma tentativa de um melodrama (não sou nada contra) com os personagens de Robert Downey Jr. e Patricia Clarkson, mas nada que atrapalhe o andamento da trama principal, o famoso nem fede nem cheira.

Boa Noite, Boa Sorte é o segundo filme que Gorge Clooney cai nas graças da direção (o primeiro foi Confissões de uma Mente Perigosa). Ambientado praticamente todo no estúdio da CBS, a câmera de Clooney flutua nos corredores e salas focalizando seus atores com um controle totalmente seguro. A belíssima fotografia é capaz de espantar um pouco a bilheteria no Brasil, já que a maioria dos brasileiros não assiste a filmes P&B. Porém é um ótimo artifício para recriar a época.

O ator David Strathairn, que foi indicado ao Oscar, está muito bem e seguro no papel principal, mas o personagem não exige muitas interpretações (exige muito cigarro). Até mesmo nas cenas em que ele apresenta o programa (Talvez o personagem real também não tivesse muita expressão facial). Clooney, que também faz um personagem no filme, fica neutro, apesar de aparecer em muitas cenas, deixando brilhar a estrela de David Strathairn.

Mas uma das grandes vantagens de Boa Noite, Boa Sorte é a duração. Nas mãos de um Oliver Stone, o filme teria umas 5 horas. Clooney o fez com duração de 1h e 30m. O filme consegue ser bom, pois, já que o tema, que não é tão impactante e interessante para os nossos dias, não dá tempo de ficar chato.
Por Ronald Perrone


Wof Creek



EUA, 2005. DE Greg McLean. COM Peter, John Jarratt, Cassandra Magrath. 99 min. Imagem. SUSPENSE.

Depois dos burburinhos causados em Sundance, do arrombo em Cannes e dos elogios da crítica, pude finalmente ter as minhas expectativas superadas. E nem é pelos dedos decepados, ou pelos sons de ossos massacrados, ou ainda imagens de pulsos pregados: Wolf Creek é um thriller do balaco porque trava um jogo psicológico tão poderoso com o espectador que... não tem como terminar a sessão sem a respiração ofegante.

A fita, baseada no assassinato de mochileiros e no caso Falconio, causou polêmica na terra dos cangurus por conta do dito sadismo em explorar o sofrimento de vítimas reais do seqüelado Ivan Milan (assassino que inspirou o personagem Mick Taylor).

Ok, agora me diga se tudo isso não é ingrediente de sobra prum puta filme de terror?

Ao contrário dos slashers atuais que dominam o cinema, o assasino dá a sua cara a tapa. Sua identidade pouco importa. Além dele, mais três amigos formam o elenco principal. Junte isso ao deserto australiano (onde a imensidão não se rende a abrigos, que não por acaso, é a primeira coisa que procuramos quando nos sentimos ameaçados). McLean constrói a trama em favor dos personagens: nos apresenta, torna-nos íntimos, cria afeição. E quando eles passam a ser tordurados é que a coisa fica feia - o espectador sente na pele.

Wolf Creek é um filme indie, de baixo orçamento e pequeno - tanto em escala quanto em duração. A fotografia inebriantemente preciosa de Brandon Trost captura a verdadeira essência do deserto australiano - de sua beleza inóspita ao isolamento cruel e assustador.

Mas o grande segredo desta produção australiana está mesmo na primeira parte - até quase metade do filme, o que você vê são três jovens com o pé na estrada, se divertindo num clima de aventura ingênua. Depois de horas de viagem, passam a manhã numa cratera, a Wolf Creek, e acabam no escuro, com a bateria do carro arriada, os eletrônicos pifados e sem nenhum sinal de vida humana em raios de quilômetros. É justamente neste momento que aparece um cara simpático à Crocodilo Dundee, e que, claro, promete ajuda. A partir daí o tom inocente é castrado por uma faca afiada e a tela tomada por seqüências pra lá de pustulentas. É a necessidade da sobrevivência, é o terror real e próximo à nossa realidade - o que sobra é nada menos que o medo, medo de gente. Eis aí o mais puro estado de aflição instaurado.
Por Felipe Mappa