20 de abril de 2008

O cinema de Andy Warhol

Blood for Dracula (1974), de Paul Morrissey: Na verdade Warhol apenas produziu. Acho que título do post deveria ser “O cinema de Paul Morrissey”, que foi o roteirista e diretor do dito cujo aqui. Mas com certeza o nome do famoso artista plástico chama mais a atenção. Warhol e Morrissey fizeram outras parcerias, incluindo Flesh for Frankenstein, que eu ainda não vi, mas já estou providenciando. Blood for Dracula é uma variação atípica da criação de Bram Stoker. É um Drácula que sai durante o dia, embora seja um tanto frágil à luz, não tem problema em pegar ou ver cruzes, mas não gosta delas, não come alho e o único sangue que bebe é de virgens.

O filme inicia na Romênia dos anos 30 com Udo Kier, ainda novo, vivendo um Conde Dracula exótico, moribundo, fraco e necessitado de sangue já que não consegue arranjar virgens para chupar o cangote. É então convencido pelo seu criado, Anton, o estranho Arno Juerging, para ir à Itália, país religioso que preza pelo cabaço de suas filhas, diferente da Romênia onde a virgindade é algo escasso.

Chegando ao país da bota, é recebido pelo Marquês di Fiore e sua esposa, que possuem quatro filhas. O Marquês é o grande diretor italiano Vittorio de Sica e seu personagem, falido financeiramente, aproveita para beneficiar-se das intenções do Conde que anuncia o desejo de se casar com uma de suas filhas. O grande problema é o criado da família (Joe Dallesandro) com pensamentos socialistas que acredita na queda da classe dominadora enquanto pratica o coito com duas filhas do Marquês, e ao mesmo tempo.

Morrissey subverte a história para um estudo visual-erótico-sanguinário e até político (na visão do criado). O conflito entre ele e o conde é símbolo de lutas entre classes, sendo que os dois dentro do contexto têm o mesmo objetivo de ter nos braços as filhas do Marquês. Uma dialética ambiciosa para um filme de terror aparentemente oportunista e apelativo para sangreira e mulher pelada.

A busca pela virgem prossegue dentro da mansão do Marquês, embora como já se sabe, duas das filhas, Rubinia e Saphiria, são muitos sapecas. São bonitas também e protagonizam várias cenas de nudez com as petecas cabeludas e encenações de sexo soft-core com o pobre criado socialista. Logo, o vampirão abre olho em cima delas, já que as outras duas filhas são, inicialmente, rejeitadas. Esmeralda, a mais velha é desprovida de beleza e Perla, a mais linda entre todas é muito nova.

O Conde rapidamente descobre que as duas beldades não são virgens de uma maneira visceral. Após chupar o pescoço de suas vítimas para retomar suas forças, seu corpo rejeita o sangue impuro criando seqüências que fazem valer a excelente performance de Kier vomitando sangue em expressões angustiadas. Kier possui muita presença, com uma linguagem corporal que lembra os atores do cinema mudo. Como no início, se maquiando em frente ao espelho (sem ver seu reflexo, lógico).

Morrissey parece ter uma afinidade em criar o choque no publico. Seja no catártico e sangrento desfecho ou na forma como apresenta os costumes de uma época a fim de expandir os limites do que era aceitável dentro do comportamento de uma sociedade com relação à sexualidade, que é um dos pontos principais explorados no filme. A direção é bem característica dos exploitations da época, com zoons e closes enfocando os exageros e os excessos. Desde o olhar expressivo de Kier até mesmo os litros de xarope derramados.

Ainda há a participação especial de Roman Polanski como um italiano espetinho que sacaneia Anton com um jogo bobo. Polanski estava realizando What? em um set de filmagens na Itália perto do local onde Morrissey filmava Blood for Dracula, um filme pouco falado aqui no Brasil, mas recomendável para os amantes dos verdadeiros filmes de terror e que estão cansados de ver sempre a mesma porcaria.