3 de maio de 2008

Diário dos Mortos (2007), de George A. Romero

Em 1968, George Romero realizou o zombie movie definitivo: A Noite dos Mortos Vivos, um clássico do horror copiado, parodiado e homenageado à exaustão ao longo dos anos. Durante as décadas seguintes, o diretor se firmou como o pai dos zumbis realizando mais três obras primas do gênero, sempre levantando críticas e provocando discussões que tocariam na cultura e no modo de vida americano, além do simples estudo das relações humanas em situações extremas. Em Diários dos Mortos, fita que não faz parte oficialmente da quadrilogia dos mortos, mas possui o que há de melhor dos elementos já utilizados em seus zombie movies posteriores, Romero toca na questão atualíssima da obsessão pelo registro de fatos. No meio das filmagens de um filme de terror, vários estudantes e seu professor ficam sabendo da bizarra notícia de que os mortos estão se levantando. Jason, o diretor do filminho resolve ligar sua câmera e capturar ao máximo todos os acontecimentos durante a jornada de volta aos seus lares. O problema é justamente a obsessão desse registro, já que Jason não para de filmar nem nos momentos de perigo enquanto seus amigos se preocupam em sobreviver desesperadamente dos ataques dos zumbis. Romero novamente não revela de onde surgiu o fenômeno que vem causando o caos na humanidade. A melhor explicação ainda é aquela de O despertar dos Mortos (1979), quando um dos personagens diz que quando o inferno estiver cheio, os mortos caminharão sobre a terra. Diário dos Mortos também utiliza a linguagem da câmera subjetiva, além de outras formas de mídia como vídeos na internet, câmeras de segurança, etc. Mas é incrível o resultado alcançado que ao invés de buscar realismo nas situações como em Cloverfield ou [REC], o filme de Romero se aproxima ainda mais da ficção, da atmosfera superficial dos filmes de zumbis e como tudo isso funciona perfeitamente para enfatizar ainda mais a sua análise do homem com uma câmera e a obsessão pelo registro! Neste sentido, Diário remete mais a Redacted de Brian de Palma, e não é só neste ponto que Romero demonstra lucidez. Aos 68 anos, o experiente cineasta ainda possui uma liberdade criativa invejável na utilização da violência explícita com muito sangue e vísceras, tudo num clima de Road Movie apocalíptico. Diário dos Mortos também é a volta de Romero à raiz com uma produção independente e um orçamento discreto, diferente da superprodução Terra dos Mortos, e mesmo experimentando uma linguagem nova, a essência continua intacta.