22 de janeiro de 2011

Scott Pilgrim vs The World


(Scott Pilgrim Contra o Mundo, de Edgar Wright, 2010)

Logo que Zack Snyder alardeou que seria ele o responsável pela adaptação de Watchmen, de Alan Moore, muita gente mordeu a beiça achando que não seria bacana, alegando (como em alguns outros episódios muito bem-sucedidos) que o material de origem era infilmável. O mesmo deve ter rolado quando foi anunciada a adaptação dos quadrinhos assinados por Bryan Lee O'Malley's -- uma série em seis volumes cheia de personagens excêntricos e recheado de referências da cultura pop-nerd.

Personagens, aliás, que poderiam compor aquele famoso poema de Drummond: Knives ama Scott, que ama Knives, que ama Scott, e que passou a amar Ramona... Que amou Matthew, Lucas, Todd, Roxy (porque "todo mundo tem uma fase lésbica em algum momento da vida"), Kyle e Ken e Gideon. Matthew virou macumbeiro do mal, Lucas é astro de cinema, Roxy ainda é lésbica, Kyle e Ken são super DJ’s e Gideon o líder dA Liga dos Ex-Namorados do Mal de Ramona Flowers. E todos os sete querem trucidar Scott por ele ser o novo queridinho de Ramona.

Bebendo goles generosos da mesma fonte de Spaced – série do mesmo (e genial) diretor inglês Edgar Wright, o mundo fabricado de Scott Pilgrim vs The World cai no limbo, em algum lugar entre a realidade, o fantástico e o incomum, onde coisas absurdas rolam sem explicação ou surpresa de alguns dos personagens. E é isso que dá o tom necessário à história, assim como a incansável jornada de Scott é essencialmente uma tradução literal da velha máxima, "love is battlefield" (tudo bem, é só uma música da Pat Benatar, o que não a torna menos verdadeira).


Falando em campo de batalha, as fantásticas cenas de lutas são coreografadas como em video-games, com cada ex-namorado do mal servindo como o último chefão, e explodindo em uma chuva de moedas quando derrotado. Wright também faz forte uso de efeitos de som e efeitos visuais no melhor estilo Nintendinho 8-bits, enquanto as onomatopéias são animadas em letras, igualzinho aos comic books.

O texto é tão mastigadinho e divertido quanto nos originais de O'Malley's -- e o crédito é total de Wright e o co-roteirista Michael Bacall, que condensaram todos os seis volumes em um filme apenas, com maestria. Tudo bem que uma coisa ou outra acabou ficando de fora, mas nada que chegue a provocar insatisfação por parte dos fãs. Wright mantém o roteiro enxuto, num ritmo alucinante, combinando uma edição frenética e telas divididas. O elenco também é ótimo, e apesar de todos manterem a regularidade (os ex-namorados do mal fazem um trabalho particularmente bacana com o tempo limitado que alguns possuem em cena), eu destacaria o quase esquecido (quase tanto quanto o braço mais famoso da família) irmão Culkin, Kieran; a lindinha e borbulhante novata, Ellen Wong, e um Michael Cera com mais cara e atitude de Scott Pilgrim do que eu  jamais poderia imaginar.

Scott Pilgrim vs The World não é só uma declaração de amor aos quadrinhos, ou aos geeks de todo o mundo -- é uma ode ao nerdly way! É um paralelo do mundo real, onde nada é conseqüência e tudo é conseqüência.

♪ Post fechado ao som de Dionne Bromfield, Foolish Little Girl.