4 de abril de 2006

Stop!

Pára! Pára que - por favor - eu quero ver! Vejam só, eu sequer estou em alto-mar! Detesto marola! Comprei a porra do ingresso, agora me deixem ver a cara da atriz...! Por favor?! Mas a câmera não pára, vai de um lado a outro, e eu... bem, eu vou enjoando, enjoando, enjoando... Será que a produção não tinha grana? Será que o editor... dormiu? Ou será que é o tão famigerado conceito?! Ta, eu vou montar uma barraquinha com os dizeres "Vende-se conceito!" em letras garrafais!

Não tem dinheiro, carrega a câmera na mão, lógico! Faz como dá, ora, no problem... Imagina se eu dissese que se não fosse pelo perrengue da falta de grana, o Cinema Novo não existiria?! Escândalo! Terror!

Sério, não sei o que é pior, a câmera que não pára ou as que não se movem nunca. Sabem?! Aqueles planos enormes, lentos, que dão sono? Tipo. É pior dormir ou enjoar?

Da última vez que fui ao cinema e cochilei perdi duas sacanagens e uma canção. O filme até que era bonito, mas não me dizia nada. E a câmera continua enlouquecida... Isso é conceito. Considero quase que indubitavelmente a possibilidade de ir embora. Mas, sei lá, será? Vai que encontro alguém que conheço...? Não pega nada bem contrariar a contemporaneidade, né?

Confesso: quis ir embora na semana passada. Sessão lotada. Me senti mal com tanta violência! Me deu uma ânsia, sabem? Mas o filme era a revolução cinematográfica! Um verdadeiro blockbuster-indie-moderníssimo! Agora me diz, como é que eu não posso gostar duma bagaça dessa? Só porque o corpo - já devidamente desmembrado e em avançado estado de decomposição - de um canibal é oferecido a um bebê de dois anos faminto?! Caca pouca é bobagem... E o enjôo piorando. É uma loucura, aliás, eu só vejo a câmera, me sinto praticamente no set de filmagem. Cena quem é bom, nada.

O mundo moderno é isso aí, ninguém vê nada. Às vezes porque a câmera não deixa, definitivamente. Às vezes, porque não se tem nada pra dizer... (ops!), digo, mostrar. Não importa o que você vê, e sim o que você acha. Todo mundo acha alguma coisa. E todo mundo mistura crítica com opinião - todo mundo, até mesmo este escriba que vos fala.

"O que você achou do filme?" e "Como é o filme?" são perguntas diferentes. Para questões mais diferentes ainda, aliás. Dá para o filme ser bom e eu não gostar. E dá para ser ruim e eu gostar. Qual o problema, mané? Quem é que consegue ser o inglês sofisticado o tempo todo? Mais ainda, quem é que quer ser o inglês sofisticado o tempo todo?!

Contar histórias, ora bolas! Simples assim. A criatura tem alguma coisa pra contar, mas é tão dela, tão dela que chega a ser inexprimível. É melhor não dizer que ninguém vai entender nada. Só resta mostrar. Assim nascem os filmes dos quais a gente se lembra para sempre...

A câmera parou ou será que eu desmaiei? Letreiros. Fim. Sempre sento perto da saída. Acendo o cigarro e me pergunto: sobre o que mesmo é esse filme?

Por Felipe Mappa, sem nada a dizer.

** post originalmente publicado no antigo cine art, em 19/12/05.