12 de outubro de 2006

A Dália Negra

A Dália Negra



The Black Dahlia, EUA/ALE, 2006. DE Brian de Palma. COM Josh Hartnett, Aaron Eckhart, Scarlett Johansson, Hilary Swank. 121 min. Universal. POLICIAL.

E chegamos à Dália Negra, novo filme do Brian de Palma e um dos mais aguardados do ano. Eu, Como fã do diretor, cheguei cedo ao cinema, mas tive que esperar a patroa, atrasada como sempre. Ela chegou quando o filme estava começando e quase atrapalhou o plano inicial, um belíssimo traveling (entre tantos outros que compõem um filme tecnicamente brilhante) e com uma narrativa em off, característico do filme Noir dos anos quarenta e cinqüenta. O cineasta, que não realizava nada de interessante desde O Pagamento Final (apesar de gostar de Femme Fatale), não só recria estéticamente o estilo, como seu filme parece ser feito na época de áurea do gênero. Só faltou mesmo o preto e branco para que o Noir ressurgisse das cinzas em meio ao cinema atual.

E como um bom Noir, A Dália Negra possui uma história um tanto embaralhada que confunde a cabeça do público. Um dos motivos que trouxe algumas críticas negativas ao filme. O público de hoje não conhece o Noir e acha que todos os filmes precisam de uma história bem traçada, florida e amarradinha. A história é relevante, não importa. O que importa sãos os elementos que compõem cada cena, que dão vida a um estilo morto, e que só Brian de Palma, um dos grandes mestres do cinema americano ainda em atividade, conseguiria trazer as telas. E foi com sacrifício. Três anos juntando grana para filmar a adaptação do livro de James Ellroy.

Brian de Palma sempre foi o rebelde entre os diretores americanos. Fazia filmes vendidos para o grande público, porém totalmente subversivos, autorais, quase nunca foram bem de bilheteria e nem sempre eram recebidos positivamente pela crítica. Mas ganhou status de cult por um grupo de cinéfilos e críticos mais inteligentes. É um dos principais influenciados pelo cinema de Hitchcock e em seus melhores filmes sempre prestou alguma homenagem ao mestre do suspense. A Dália Negra também não fica muito atrás. Foi mal recebido nos cinemas. Normal. Melhor assim. Iria estranhar se não fosse.

A Dália Negra é compilação das obsessões do diretor com os elementos Noir. Estão lá as situações intrigantes, as investigações policiais que parecem nunca dar em nada, atuações exageradas dos canastrões, a femme fatale, os diálogos ambíguos, os ambientes escuros, a estética expressionista, tudo isso somado às preferências de Brian de Palma, detalhes que ele coloca só para incomodar, como por exemplo, o fato de os personagens repetirem a todo instante que a vítima assassinada e uma outra personagem tinham uma aparência semelhante, sendo que, as duas atrizes não tinham nada de comum e isso era visível pra quem quisesse notar.

Além disso, a escalação de Josh Hartnett como o policial que investiga o assassinato com seu parceiro, interpretado por Aaron Eckhart, foi um ponto dos mais criticados. Ele é jovem e não possui o ar canastrão necessário para o personagem. Claro que um ator “Bogardiano” seria perfeito para o papel, mas é inserido aqui um outro tipo de herói dentro do Noir. Um herói mais idiota, um verdadeiro estúpido e não um Robert Mitchum ou Humphrey Bogart, exemplos de estereótipos do estilo. Já Eckart consegue uma atuação mais exagerada e expressiva, mesmo que em alguns momentos soe falsa, uma atuação interessante. Scarlett Johansson não aparece muito inspirada, tampouco expressiva; e Hilary Swank consegue encarnar uma bela femme fatale. Não é uma Verônica Lake ou Barbara Stanwyck, mas tudo bem.

A direção é primorosa. Brian de Palma é um diretor que possui uma visão de movimento de câmera que por si só, segura o filme inteiro. Ele consegue criar uma excitação em cenas tão simples que fica fácil deixar os seus admiradores em êxtase em cenas tensas e atmosféricas, como na cena da escadaria. A fotografia de Vilmos Zsigmond é fiel ao extremo ao estilo noir e sua composição de luz, sombras e cores recriam a época em que o filme se passa com perfeição. E são nesses detalhes que A dália Negra se firma, é onde o filme é estruturado. Na técnica, na estética, nos elementos que estão rodeando e que formam a verdadeira trama. Essa é a essência do Noir e Brian de Palma conseguiu captar perfeitamente, mesmo que o publico de hoje não seja mais preparado para esse tipo de experiência.

Por Ronald