18 de dezembro de 2007

O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford

O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford (2007), de Andrew Dominik



O western ainda pode ser considerado um território fértil para contar boas histórias que retratam os mais variados temas fundamentais da humanidade e não somente histórias de cowboys brutamontes montados em cavalos e cuspindo para lado como muita gente pensa. Basta ver os filmes de um John Ford, como Rastros de Ódio e O Homem que Matou o Facínora, por exemplo.

O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford é um western épico que trata de um amor platônico que surge da admiração de um fã, Robert Ford, pelo seu ídolo de infância, Jesse James. Mas não se trata de um amor homossexual, ou uma paixão gay estilo Brokeback Mountain. Mas um amor de olhar e da vontade de ser aquele ídolo. Não de penetrá-lo, mas admirá-lo em cada detalhe do corpo e cada gesto até desejar transformar-se nele. E na criação do vínculo entre essas duas peças de xadrez que o diretor Andrew Dominik esquematiza seu filme.

Ao diretor, o que parece lhe interessar também é a qualidade visual; o resultado é de pura poesia estética que remete a diretores como Terrence Malick de Cinzas do Paraíso. Várias outras influencias ficam evidentes nas escolhas estéticas do diretor, como por exemplo a violência explícita e visual, lembrando um Sam Peckinpah, usada de forma sutil e sem exageros, que favorece muito o produto.

O Jesse James de Brad Pitt, sem a maquiagem habitual que o deixa com ar de galã, é um dos trabalhos mais desafiadores na sua carreira de ator, e o faz com extrema confiança. Vive um bandido ameaçador que conquista um certo carisma perante o público mesmo com a sua morte anunciada no próprio título do filme. Mas é Casey Affleck, interpretando Bob Ford, que ofusca o brilho de Pitt com sua cara ingênua e sua paixão enrustida por Jesse. É um personagem que deseja ser outro, e Casey merece todo reconhecimento pela atuação.

Mas não é só pelas duas estrelas que o filme é dominado. O Assassinato de Jesse James... possui profundidade de texto suficiente para repercutir em torno de vários personagens e preencher os 160 minutos de duração, e apesar de longo, da narrativa lenta e dos excessos, as situações criadas no roteiro, a beleza da fotografia de Roger Deakins, a poética trilha sonora de Nick Cave e Warren Ellis e o show de elenco são suficientes para deixar o espectador mais reflexivo atento aos desdobramentos e obter um lugar garantido entre os melhores filmes de 2007.

por ronald