25 de janeiro de 2008

Atonement

Desejo e Reparação (2007), de Joe Wright



Como adaptação do best seller Reparação, de Ian McEwan, Desejo e Reparação parece fazer bonito. Como cinema, entretanto, é apenas um bom drama que não justifica o favoritismo às principais premiações, tendo já vencido o Globo de Ouro e indicado ao Oscar de melhor filme. Mas possui muitos dos elementos que agradam os membros da Academia.

A história se inicia no período entre as duas grandes guerras mundiais em uma propriedade inglesa onde reside a família Tallis. A mansão, com seus cômodos escuros e ricamente reconstituídos, os imensos jardins e toda a vegetação são brilhantemente filmados por Seamus McGarvey, (diretor de fotografia que já trabalhou com Stephen Daldry em As Horas) e acompanhado com a trilha inspirada de Dario Marianelli, conduzida com base de teclas de maquina de escrever. É neste ambiente que somos apresentados a Briony, uma menina aspirante a escritora que possui um maduro talento e um olhar bastante criativo do mundo a sua volta. É com essa visão que acaba notando o envolvimento da irmã, Cecília (Keira Knightley) com um empregado, filho da governanta, Robbie (James McAvoy), e sem entender do assunto, cria uma rede de mentiras que muda o destino de todos.

Briony é vivida por três atrizes em diferentes épocas. A mais competente é a pequena Saoirse Ronan, com um desempenho firme. A grande Vanessa Redgrave faz uma ponta como a personagem idosa e ainda surpreende com seu rosto expressivo e os belos olhos azuis. Keira Knightley, que já trabalhou com o diretor em Orgulho e Preconceito, mostra que vem amadurecendo como atriz. Enquanto James McAvoy apresenta ótima atuação. O drama vivido pelos dois pombinhos é seco e ausente de sentimentos. Obviamente, não era a intenção sentimentalizar a situação.

O primeiro ato, principalmente, é conduzido com muita segurança por Joe Wright seguindo o ótimo roteiro de Christopher Hampton, com a cronologia não linear enfatizando pontos de vistas distintos e realizando belíssimas seqüências estéticas. Este último, aliás, é um detalhe que nunca se perde durante todo filme, tecnicamente perfeito. Mas a partir dos acontecimentos da ultima noite na mansão, os personagens dispersam durante a segunda guerra mundial, assim como a atenção do espectador. Por mais que a fotografia continue lançando em cena detalhes geniais de feitura plástica (como o maravilhoso plano seqüência na praia), a narrativa começa a se arrastar. Já não possui o mesmo charme de antes acompanhar os personagens centrais em lugares diversos.

Ainda existe uma atenção voltada para as conseqüências psicológicas e físicas que resultaram das atitudes da pequena Briony, que vive angustiada e corroída pela culpa desde que passou a entender como seus atos infantis conceberam marcas profundas sobre Robbie e Cecília. Essa culpa se estende a uma grande sacada no desfecho. A forma como o roteiro prega uma peça no espectador, levantando uma inteligente questão de como o cinema é manipulador. De como acompanhamos histórias que dentro das próprias histórias, elas não existem de fato.

Provavelmente, Desejo e Reparação poderia ser uma obra prima, não fosse as irregularidades narrativas. Apesar de superestimado não deixa de ser um interessante drama, pomposo e filmado com a cartilha de como ganhar o Oscar, e provavelmente deve ganhar.

por ronald