31 de julho de 2010

The Last Airbender


(0 Último Mestre do Ar, de M. Night Shyamalan, 2010)

Desde que foi anunciada a versão em celulóide de Avatar, popular série animada produzida pela Nickelodeon, a controvérsia e o ceticismo tem pairado sobre a produção. Assistindo à nova brincadeira do diretor indiano, posso garantir a quem se preocupa com o racismo já alardeado do filme (o que incitou fãs puristas na gringa a promover um boicote), que ele é  praticamente nulo quando comparado a inegável arte de Manoj Nelliattu Shyamalan em destruir -- de forma (sempre) competente -- expectativas e materiais que definitivamente poderiam colocá-lo novamente em um posto de honra. Com um roteiro "incrível", The Last Airbender é um grave insulto a qualquer ser com um QI de três dígitos e disposto a usá-los durante a projeção. Diferente do original criado por Michael Dante DiMartino e Bryan Konietzko, o filme de Shyamalan é ruim. E arrisco a dizer (com um pouco de pesar, até porque ainda acredito na capacidade de Shyamalan em voltar a velha forma) que O Último Mestre do Ar vem pra arrebentar as pregas e assinar, de uma vez por todas, a já anunciada sentença de morte de sua carreira... o que torna mais difícil de acreditar que a Paramount confiaria a continuação da série (ou trilogia) ao diretor.

Se você por acaso não conhece, The Last Airbender conta a história de um mundo coabitado por quatro tribos, representadas pelos quatro elementos (ar, água, terra e fogo). Em cada tribo, existem o que chamamos de "dobradores" (ou Mestres... da Água, Terra, Fogo e Ar) - indivíduos que manipulam o seu respectivo elemento. E em algum lugar perdido no mundo, o Avatar, que domina a todos os quatro elementos, e de quem não se tem notícias a mais de 100 anos. E é justamente nele, o último Mestre da Tribo do Ar, em que se deposita toda a esperança de libertação da opressão imposta pela Tribo do Fogo, que tem em seu controle grande parte desse mundo.

O filme retrocede. Nos remete a um tempo antes de O Senhor dos Anéis e Harry Potter, quando o cinema de fantasia não passava do filho bastardo da ficção científica, sempre motivo de piada. É uma compilação de clichês ruins e costurados de forma deselegante pelo roteiro amargo de Shyamalan. Como se já não bastasse tudo, o diretor-roteirista se afunda muito mais ao comprimir uma tonelada de informação em uma linha de díálogo (o que contribuiu prum filme bastante corrido e confuso), jogando nas costas dos jovens atores uma carga pesada demais e que obviamente eles não conseguem suportar. Irônicamente ou não, os menos piores em cena fazem parte da banda étnica da produção: Patel, Curtis e Assif Mandvi. Ainda assim, em alguns pontos me lembrei do conselho que Herrison Ford deu a Lucas no set de Star Wars, onde ele basicamente dizia que o diretor poderia escrever qualquer merda que quisesse, e ainda assim, a grande maioria das coisas escritas não poderiam ser ditas, interpretadas de forma satisfatória.

Mas nem tudo são cinzas -- se me permitem a piada infame. A produção de design acerta muito: Phillip Messina fez o meu queixo cair em várias passagens, com beleza e capricho, enciclopédico com as referências culturais de cada tribo, o que inevitavelmente cria uma identidade real; a fotografia de Abdrew Lesnie é absurda;  Judianna Makovsky também fez a lição de casa direitinho para o figurino, perfeitos; e como não poderia deixar de ser, os efeitos visuais (cortesia da turma do Tio Lucas, a Industrial Light and Magic) corroboram para todo o deleite visual da produção, principalmente em relação a dobra dos elementos (da água, sobretudo).

Alguns fodões do mainstream cinematográfico diziam que a redenção de M. Night Shyamalan poderia vir de um material adaptado. The Last Airbender joga por terra essa teoria, o que supera qualquer coisa que ele já tenha produzido em termos de horror incompreendido. Há momentos em que me pergunto seriamente se ele está tentando seguir os passos de Ed Wood... Fato é que erros primários comprometem toda uma produção, e pior, insultam a nossa inteligência. Neste caso específico, aos fãs da série original, que terão de pagar para assistir a um resultado vergonhoso (ainda que a equipe de arte tenha acertado muito).

Que me perdoe Shakespeare, mas se merda tivesse outro nome, continuaria a feder do mesmo jeito.