20 de novembro de 2011

Tomboy + The Rural Alberta Advantage



Há, definitivamente, um quê andrógino na figura mirrada de Laure -- protagonista do vencedor do Teddy Award do Festival Internacional de Berlin (e do prêmio do júri de melhor longa do Festival Mix Brasil de Cinema da Diversidade Sexual, este, no último final de semana). A pequena acaba de mudar-se com seus pais e irmã mais nova para o bairro de um subúrbio francês, e ao ser confundida com um meninote por sua nova vizinha, Lisa, começa a fazer o jogo ao apresentar-se como Michaël, levando a mentira até onde o braço alcança e assumindo, de gruja,  consequências engraçadas e às vezes bem desconfortáveis.

Tomboy (que do inglês é algo como "Maria-João", menina com trejeitos masculinos) é o segundo da diretora francesa Céline Sciamma, e segue quase a mesma linha do seu primeiro, Water Lilies, trazendo a tona questões sobre a exploração da sexualidade feminina nesse contexto homosexual. Digo quase, justamente por Tomboy ser uma espécie de retrocesso, ao menos cronologicamente, entregando um personagem para quem a sexualidade é praticamente zero. E isso fica claro quando o corpo assexuado de Laure é exibido, deixando evidente que, na idade dela, a divisão entre sexos é uma linha tênue e quase inexistente. A fotografia de cores simples se junta ao tom documental, latente em toda a produção -- consigo até enxergar a referência a Luc e Jean-Pierre Dardenne -- fazendo a transição do mundo fechado e inóspito dos vestiários e piscinas de seu filme anterior para ambientes mais etéreos e bucólicos de bosques e lagos, tudo isso misturado a uma política de "menos é mais". Há uma sensação de intimidade e proximidade do elenco incríveis que corroboram a criação de uma verdadeira crônica viva e absurdamente natural,  suave e ao mesmo tempo sagaz em retratar as experiências da tenra idade.

Aliás, "natural" é um adjetivo que se repete ao longo de toda a projeção. Dentre outros aspectos fantásticos do filme, a interação do elenco, e principalmente, a direção dos pequeninos, todos desconhecidos e praticamente não-profissionais, é impecável! A naturalidade das cenas entre Laure e Jeanne (a lindíssississima Malonn Lévana, que dá vontade de apertar toda vez que ela surge na tela) é qualquer coisa de absurdamente linda.

O filme está longe de ser polêmico, entregando argumentos para influenciar ou mudar a atitude de outrem. Tomboy é mais um retrato emocionante do que significa ser pego fora das normas, sobre aventuras inocentes, sobre se apaixonar por algo impossível. Adorável.


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O trio é canadense. Nils Edenloff, Amy Cole e Paul Banwatt causaram certo burburinho no cenário alternativo com seu álbum de estréia, Hometowns. A voz bastante característica de Edenloff, a bateria frenética de Paul Banwatt e a doçura dos vocais de Amy Cole nos jogam algumas influências do tipo Neutral Milk Hotel, mas com características muito próprias, autênticas.


Este quase EP é o registro de um show realizado em março deste ano, onde a banda alterna entre a energia e intensidade de Hometowns e a pegada leve e bucólica de seu segundo disco, Departing. O som é digníssimo, com melodias que empolgam e emocionam na mesma proporção. E isso, meninos e meninas, é prova inegável de que a banda tem muito pra tornar-se grande; seja com um som mais energético, seja com baladinhas low-profile. =)

Serviço:

Live @ The Phoenix

01. Muscle Relaxants
02. Tomado '87
03. Edmonton
04. Frank, AB
05. In The Summertimes
06. Stramp
07. Bames' Yard
08. Drain The Blood
09. The Dethbridge in Lethbridge




15 de outubro de 2011

Akmareul Boatda (aka I Saw The Devil) + Mayer Hawthorne


Eu gosto de terror. E assistindo a filmes produzidos em partes diferentes do globo, a gente acaba notando uma nítida diferença cultural na forma como a violência e o terror são usados a favor (e às vezes contra) da história que está ali para ser contada. No Japão parece um ato rebelde contra a cultura tímida e comportada; em Hong Kong é um atestado de estilo flamboyant; agora, na Coréia é quase sempre sobre a natureza destrutiva da violência e como ela pode prejudicar os dois lados de um conflito, o que talvez seja apropriado para um país dividido em dois.

I Saw the Devil junta a história de um serial killer com um conto de vingança. Não alcança a complexidade emocional ou nível de tragédia shakespeariana da trilogia de Park Chan Wook, mas o diretor Kim Jee Woon consegue transformar o seu filme numa pequena epopeia perturbadora sobre a escuridão da alma humana. Aliás, a referência filosófica do filme fica por conta de Nietzsche: "Aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não tornar-se também um monstro. Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você." E é aí que o título sugere uma reviravolta na dinâmica no filme. Kyung-chul é a personificação do diabo, e ele, claro, não inspira a nossa simpatia. E a violência de um monstro como Kyung-chul é capaz de cegar um bom homem a ponto de fazê-lo esquecer de sua própria humanidade. Jee-woon cospe em nossa cara, sem dó nem piedade, a linha tênue que separa o bem do mal.  E num país curtido pela guerra, com famílias divididas e desmanteladas, o filme de Kim sugere que a pior maneira de se curar a dor e a perda é a vingança – o que pode não parecer tão efetivo.

O plano de vingança prolongado de Soo-hyun acaba impedindo a polícia de prender o verdadeiro assassino. E ainda assim, com Soo-hyun no calcanhar, Kyung-chul continua seu reinado de terror, matando novas vítimas e exigindo um preço adicional demasiadamente alto - "... sangue pede sangue".

Numa época em que filmes de serial killer se mostram quase sempre chatos e descartáveis,  I Saw the Devil é um sopro forte de vigor. E eu não falo só de violência e criatividade – falo de um filme que já nasceu clássico.


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A galera entendida torceu um pouco o nariz quando soube do êxodo do artista: Hawthorne migrou do selo indie Stones Throw Records (com um cast de dar inveja) para Universal Republic Records (o braço indie da poderosa Universal, o mesmo selo da finada Winehouse). Para os de pouca fé, Hawthorne manteve a alma soul de A Strange Arrangement. A pitada de amargura e o estado de êxtase sonoro incessante e em "no strings" dão o tom do disco. Ainda que causando algum tipo de discussão, ou te fazendo pensar durante uma noite inteira, a música de Mayer Hawthorne consegue ser envolvente e charmosa, nunca chata ou ruim.  Seu primeiro single, The Walk, já nasceu clássico - prova cabal de que se consegue ser radiofônico sem precisar apelar, com qualidade.


Fino e soulful, Hawthorne mantém o seu OG com How Do You Do, graças à Deus. E fica a dica: da próxima vez, tenhamos um pouco mais de fé.


Serviço:


How Do You Do (2011)


01. Get To Know You
02. A Long Time
03. Can’t Stop (ft. Snoop Dogg)
04. Dreaming
05. The Walk
06. Finally Falling
07. Hooked
08. Stick Around
09. The News
10. You Called Me
11. You’re Not Ready
12. No String




18 de setembro de 2011

Waiting for Superman





















Waiting for Superman não é apenas um filme cativante, que envolve o público pela narrativa emocionante e surpreende em seus minutos finais... é, antes de tudo, um soco no estômago da falida estrutura educacional pública americana. Pensando aqui com os meus botões, Davis Guggenheim bem que poderia ter novamente usado o  An Inconvenient Truth para o título desse seu trabalho. Nesses novos 111 minutos, o diretor engrena uma narrativa perfeita e dá nome ao que antes eram só estatísticas: nos apresenta a Antônio, Francisco, Bianca, Daisy, e Emily -- cinco crianças que encontram-se presas ao sistema, numa busca incessante por uma saída. O problema central abordado pelo filme são os professores, com o argumento infalível de que são eles as peças chaves da equação. Se os caras não estão nem aí para a educação da molecada, a presença deles nas salas de aula se resume a preencher carteiras e morrerem de tédio. E essa falta de incentivo gera desinteresse, que consequentemente gera a evasão (o que justifica as escolas públicas americanas serem chamadas no filme de “fábricas de abandono” e “sumidouros acadêmico”). Entre vários motivos apontados, há ainda a temível estabilidade dos professores (o que dá o poder aos caras de fazer o que quiserem sem serem demitidos), e números (sobre a relação evasão escolar x criminalidade; sobre o quanto de dinheiro o governo americano gasta com sistema prisional em detrimento a educação; sobre a gritante diferença entre um bom professor e um professor ruim). Isso sem mencionar as soluções pífias do próprio sistema na tentativa de amenizar o impacto causado por uma educação de má qualidade e profissionais despreparados (a "Dança dos Limões", por exemplo, onde os diretores de escolas do mesmo distrito realizam uma troca de professores ruins, na esperança de que o ruim da escola vizinha seja menos pior do que aquele que acabara de mandar para outra; ou ainda a "Sala da Borracha", onde os professores suspenso por má conduta -- o que inclui de atrasos a abusos físicos e sexual -- lêem, dormem, jogam cartas e... recebem seu salário de forma integral enquanto aguardam os resultados das audiências -- que duram em média 3 anos, e custam aos cofres públicos do estado de Nova York U$ 100 milhões por ano). E fica impossível durante todo o filme não criar comparativos deste modelo americano com o também inibidor sistema educacional brasileiro (ainda que os motivos para as mazelas na educação nacional não sejam exatamente os mesmos do sistema americano). Tudo converge para a máxima que diz “as crianças são o nosso futuro”. Infelizmente não há uma solução automática e milagrosa para resolver o problema. E se essas crianças não estão recebendo a melhor educação possível, estamos todos indo para um buraco sem fim. É aí que entra a esperança da espera -- da espera de educadores fazendo o que supostamente deveriam fazer: ensinar, sem politicagem ou outros interesses.   Geoffrey Canada, CEO e Presidente da Harlem Children's Zone,  foi uma criança apunhalada pela cruel realidade ao descobrir que o Superman não era nada além dos gibis. Ele decidiu arregaçar as mangas para salvar os outros e a si mesmo. E nós, podemos fazer alguma coisa?

Waiting For Superman - Trailer from Ignition on Vimeo.

10 de setembro de 2011

Red Hot + Rio 2




















O projeto reúne novos e renomados artistas da música brasileira com nomes em ascendência na esfera alternativa musical desde 1996. A iniciativa é da Red Hot Organization, uma produtora americana sem fins lucrativos que encabeça projetos culturais (e publicidade) no intuito de arrecadar verbas que ajudem ONG'S na prevenção e no combate a disseminação do vírus HIV. O Red Hot + Rio 2 tem como pano de fundo um dos grandes movimentos da contracultura do nosso Brasilzão, a tropicália - que faz um sucesso gigante entre a gringada, assim como toda a música brasileira faz. Além do ingrediente brazuca, da homenagem ao nosso som, os encontros musicais propostos pelo disco são absurdamente improváveis e quase sempre fantásticos! São dois álbuns, com 33 músicas no total: um primeiro com uma sonoridade mais, digamos, convencional, sem muita inovação de arranjos; e um segundo álbum mais, ousado e mais inventivo. No meio de tanta coisa boa, fica complicado destacar uma ou outra. Ainda assim, Nú Com a Minha Música (Marisa Monte, Devendra Banhart e Amarante), Um Canto De Afoxé Para O Bloco (com os über's do Superhuman Happiness), Um Girassol Da Cor Do Seu Cabelo (Mia Doi Todd e José González), Aquele Abraço (Forró In The Dark, Brazilian Girls e Angelique Kidjo), Leãozinho (Zach Condon e a galera do Beiruth), Bat Macumba (Os Mutantes e Of Montreal ), A Roda, num sotaque maravilhoso (Orquestra Contemporânea De Olinda e Emicida), Berimbau (Mayra Andrade e Trio Mocotó) e Panis et Cirsensis (The Boogie) são minhas preferidas. Um projeto bacana, com artistas bacanas, e em prol de uma causa que ainda precisa muito de atenção.



RH Loft Party: Beirut from Red Hot on Vimeo.

* o projeto possui vários pacotes à venda, que vão desde o disco em formato digital (MP3 ou lossless), por US$ 15,99; até o pacote master (com o disco em formato MP3 ou lossless, os dois cd's do projeto, vinil, bag, poster, enfim...), por US$ 75,00. Como a causa é nobre, eu fiz a compra dos dois discos em formato digital do projeto. O link do blog vai como de costume, mas ajudar nunca é demais, né não? No site oficial da produtora você consegue comprar, além do Red Hot + Rio 2, outros já lançados com o mesmo intuito.

Serviço:


Red Hot + Rio 2 (2010)


RED (álbum 1):

1. Baby: Alice Smith + Aloe Blacc
2. Tropicália (Mario C 2011 Remix): Beck + Seu Jorge
3. Um Girassol da Cor do Seu Cabelo: Mia Doi Todd + José González
4. Samba de Verão: QuadronT
5. Boa Reza: Vanessa da Mata + Seu Jorge & Almaz
6. Love I’ve Never Known: John Legend
7. Nascimento (Rebirth) – Scene II: Aloe Blacc + Clara Moreno
8. Ela (Ticklah Remix): Curumin
9. Baby (Old Dirty Baby Dub Version): Aloe Blacc + Alice Smith
10. Um Canto de Afoxé para o Bloco do Ilê: Superhuman Happiness + Cults
11. Mistérios: Om’Mas Keith
12. Aquele Abraço: Forró In The Dark + Brazilian Girls + Angelique Kidjo
13. Canto de Iemanjá: Mia Doi Todd
14. Terra (Prefuse 73 '3 Mellotrons In A Quiet Room' Version): Caetano Veloso
15. Nú Com A Minha Música: Marisa Monte + Devendra Banhart + Rodrigo Amarante
16. Acabou Chorare: Bebel Gilberto
17. Dreamworld: Marco de Canaveses: David Byrne + Caetano Veloso

HOT (álbum 2):

1. O Leãozinho: Beirut
2. Panis et Circensis: Tha Boogie
3. Bat Macumba: of Montreal + Os Mutantes
4. Tudo o Que Você Podia Ser: Phenomenal Handclap Band + Marcos Valle
5. Banana: Madlib + Joyce Moreno Feat. Generation Match
6. Freak Le Boom Boom: Marina Gasolina + Secousse
7. Tropical Affair: Money Mark + Thalma de Freitas + João Parahyba
8. Soy Loco Por Ti, América: Los Van Van + Carlinhos Brown
9. Roda: Orquestra Contemporânea de Olinda + Emicida
10. Berimbau: Mayra Andrade + Trio Mocotó
11. It's a Long Way: Apollo Nove + Céu + N.A.S.A.
12. A Cidade: DJ Dolores + Eugene Hütz + Otto + Fred 04 + Isaar
13. Ogodô, Ano 2000: Javelin + Tom Zé
14. Águas de Março: Atom™ + Toshiyuki Yasuda Feat. Fernanda Takai + Moreno Veloso
15. Show Me Love: Twin Danger
16. Pistis Sophia: Rita Lee

7 de setembro de 2011

Lung Boonmee Raleuk Chat (aka Tio Boonmee, que Pode Recordar Suas Vidas Passadas)

- Bilu é o escambau!






















Então... Esse... Essa... Isso... Enfim, esse conjunto quase absurdo de imagens em movimento - que na verdade me parecem mais inertes - foi a grande zebra no Festival de Cannes do ano passado, vencendo a Palma de Ouro. Lung Boonmee... divide opiniões: entre os que acham tudo muito bonito, muito mágico e muito lúdico; e os céticos (oi?!) que acham tudo confuso demais, chato demais e pretensioso demais. Talvez (atentem ao negrito), Lung Boonmee... seja ambos. O roteirista e diretor tailandês Apichatpong Weerasethakul (aka Joe – apelido adotado por ele próprio na intenção de facilitar a vida dos escribas) criou uma fantasia eligia, impregnada de Zen Budismo, sobre um agricultor tailandês as vias de sua morte. Há algo excentricamente cômico sobre esse “rito de passagem”: os encontros com a esposa morta e uma mórbida semelhança entre seu filho e o intrépido urrador de Star Wars, Chewbacca, que o digam. No entanto, algo que me incomoda muito mais é a frustrante falta de clareza narrativa. Aliás, muito pouco do filme é realmente compreensível, principalmente tudo após a morte do tio Boonmee. A narrativa é desprovida de qualquer estrutura convencional (o que prova que o tiro às vezes pode sair pela culatra), e o ritmo é absurdamente arrastado, chato. Se você estiver com disposição para algo poético, talvez ache tudo muito gratificante e significativo. O que não funcionou muito pra mim... É aquele tipo de filme que as pessoas assistem para parecer mais inteligente do que realmente são, fingindo gostar, por não quererem ser vistos como filisteus. Só não me culpe se você sair balançando a cabeça, descrente e se queixando de que o que acabou de ver não passa de um monte de bobagem místico-prolixo.

2 de setembro de 2011

Um banquinho, um violão...





















O pocket show (que eu mesmo baixei, ripei e fiz a tosca arte da capa) rolou no Littlefield antes dum papo com os fãs, e abre a turnê do City and Colour (aka Dallas Green) em seu novo trabalho, Little Hell. Quem ouve essa nova fase talvez não consiga imaginar o rapaz como um guitarrista nervoso de uma banda canadense de post-punk , e que, por vezes, emprestava sua voz de forma um tanto diferente da de agora. O talentoso mancebo dedilha alguma de suas melhores músicas e entrega qualquer coisa de emocionante aos nossos ouvidos! Os arranjos acústicos unidos à bela voz do rapaz dão o toque soulful a um emaranhado de características positivas, que ganham ainda mais força com as belas composições.

Serviço:

City and Colour - Live at Littlefield (2011)

1. Fragile Bird
2. Body In a Box
3. The Grand Optimist
4. Comin Home
5. Northern Wind
6. Against The Grain
7. Day Old Hate

28 de agosto de 2011

Rise of the Planet of the Apes

Olhos tristes... *shuinf*

Gostei tanto de Planeta dos Macacos: A Origem, que digo seguramente: ele não perde em quase nada para o de 68, a não ser o fato do original ser um grande clássico (e com todos os elementos da adaptção literária, naquele climão guerra-fria, com uma crítica afiada ao ser humano e suas atrocidades e as consequências da guerra, sei-que-lá-sei-que-lá). Que fique claro que este novo (...) A Origem, ao contrário do  bom (e só) Planeta dos Macacos de Tim Burton, não é um remake do original. Como o próprio título brasileiro sugere, é uma prequel, ou seja, cerveja é um filme cuja trama antecede a um outro já lançado, onde, talvez, algo tenha ficado perdido ou não foi bem explicado. O roteiro, assinado a quatro mãos por Rick Jaffa e Prata Amanda, não é genial, mas não atrapalha em momento algum o andamento do filme dirigido pelo inglês Rupert Wyatt. No campo das atuações, temos o carismático James Franco como o protagonista Will Rodman, que talvez não fosse o primeiro ator em quem eu pensaria para o papel, mas que o entrega de forma bastante competente; a rainha de Bombay, Freida Pinto (lindíssima sempre), como a namorada de Will, Caroline Aranha (WTF?!) em uma participação que se resume a inúmeros "This is wrong, Will" durante toda a projeção; Tom Felton (Dodge Landon), em uma tentativa rasa de desvencilhar-se de um papel que o acompanhou por mais de 10 anos; e finalmente, Andy Serkis, que nos brinda com o símio Ceasar, absurdamente real em todos os sentidos, ainda que "mascarado" pelo incrível trabalho de CGI da Weta Digital. Serkis parece não se esforçar muito pra deixar transparecer a exuberância, o desespero e a ameaça com toda aquela carga emocional que normalmente a gente espera de um ator que não esteja com toda aquela parafernalha espalhada pelo corpo -- e isso, minha gente, é uma conquista maravilhosa. Outro ponto forte do filme é a excelência dos efeitos visuais manufaturados pela competentíssima fábrica de sonhos de Peter Jackson, responsável, entre outros trabalhos, pela trilogia O Senhor dos Anéis, King Kong, Avatar e As Aventuras de Tintin. A cena da macacada enlouquecida na Golden Gate, em plena a luz do dia é pra deixar de queixo caído. Tenho certeza de que vai agradar, ainda que pesem um pouquinho, beirando um leve exagero.

Quem diria que a temporada dos filmes de verão no hemísfério norte este ano nos presentearia com mais de um filme acima da média, hein?

26 de agosto de 2011

[#musicaboa] Sallie Ford & The Sound Outside - Dirty Radio (2011)





















Esse lance de resgate sonoro é moda, e faz algum tempo já. Uma galera boa se esforça bastante pra alcançar algum resultado satisfatório (ou que ao menos não nos ofenda tanto), mas não me lembro de ter ouvido nada tão honesto e realmente new-old quanto Dirty Radio, primeiro (e simplesmente fenomenal!) disco da banda de Portland, Sallie Ford & The Sound Outside. Se eu fechar os olhos, juro, enxergo rapazes de topete com bastante brilhantina (e com o combo jeans-camiseta-branca-jaqueta-de-motoca-wayfarer) e moças com suas saias rodadas (e rabo-de-cavalo-chiclés-de-bola-óculos-gatinha) cantando e rodando num ginásio de uma high school qualquer do Oregon, em um daqueles Bailes da Primavera, saca? Rola um transporte para bandas de rockabilly do final dos anos 50/início dos anos 60 (meio Bill Halley & The Comets, Jerry Lee Lewis, Eddie Cochran e até Beatlles), rola um quê de Tom Waits, uma mistura de old-jazz-blues-folk-rock -- só que ao invés dos costumeiros vocais masculinos, temos uma bela e imponente voz feminina no comando, cheia de personalidade. Sensacional, de I Swear à Nightmares.

Pros apressadinhos que querem conferir logo, um vídeo bacana de Cage, ao vivo, na cozinha de um apartamento. Na sequência, o já popular link pro disco. ;D




Serviço:

Dirty Radio (2011)

1. I Swear
2. Danger
3. Cage
4. Poison Milk
5. Against The Law
6. Thirteen Years Old
7. This Crew
8. Write Me A Letter
9. Where Did You Go?
10. Miles
11. Nightmares

Back To The Future... is back?!

É no mínimo curioso: quem cantou a pedra foi o @failwars, no twitter, e numa rápida pesquisada, vi que não haviam muitas referências... Tá na cara que é um viral, só não ficou claro ainda se tem algo a ver com a produção de um novo filme (as últimas notícias de uma nova aventura de Marty McFly e do Dr. Emmet Brow datam de 2002), ou nada além de uma publicidade.

Vê aí:


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EDITADO:

Ao que tudo indica é mesmo publicidade para uma loja argentina de eletrônicos, a Gabarino. Apesar de tudo, foi bacana de ver. O vídeo abaixo, de duração maior, é tipo um making-off-não-oficial feito por fãs durante o que parece ser a gravação do viral. O texto do vídeo ainda sugere a dúvida, mesmo depois de afirmar que a "máquina do tempo" original foi levada à Argentina para a produção do comercial... Sei não hein.


Créditos: Nerd Bastards.

24 de agosto de 2011

X-Men: First Class (2011)

Tão olhando o que?

Quando eu me empolgo assistindo a um filme, fico difícil de ser controlado... E, cara, eu amo ser surpreendido! Ainda que soubesse que o primeiro episódio do que parece ser a reinvenção de uma franquia (da qual eu sou muito fã) seria comandado pelo talentosíssimo Matthew Vaughn, diretor de um dos filmes mais bacanas dos últimos tempos. First Class é a coroação cinematográfica dos super-heróis-mutantes da Marvel; é a prova cabal de que uma mudança na direção e no elenco somadas a uma história digna de ser contada faz muito bem, sim senhor. O roteiro tem nos creditos o próprio Vaughn e mais três (Edward Ashley Miller, Zack Stentz e Goldman Jane), e por essa razão impressiona: por não parecer desconexo e alegórico, e funcionar de forma bastante inteligente -- o que o torna automaticamente bem acima da média. Em um filme de verão, desenvolver uma narrativa coerente, onde os personagens ou situações não se tornem absurdas (verborragia  e explosão desnecessária de CGI na sua cara) é tarefa louvável, minha gente. Fassbender e McAvoy fazem jus aos seus protagonistas e nos entregam atuações muito honestas: McAvoy é o responsável por uma das mais bacanas "desconstruções" de um personagem da qual tenho notícias (o professor Charles Xavier), enquanto Fassbender nos aproxima muito de Erik Lehnsher (aka o temível Magneto). No núcleo do bem, destaque também para a lindíssima Jennifer Lawrence (Mística) e Nicholas Houth (Fera). E já que uma história de heróis nada é sem um puta vilão, senhoras e senhores, aplausos para Kevin Bacon!: o seu maníaco-nazista Sebastian Shaw é de fato hiper-mega-blaster-waster-triple-ninja-X-excelente.

Acho que eu não exagero quando digo que X-Men: First Class não é mais um filme saído das histórias em quadrinhos em um mercado atual absurdamente saturado. E é por conta disso tudo que não consigo imaginar como esse filmaço poderia ter sido melhor.

23 de agosto de 2011

[#musicaboa] Mayer Hawthorne - Impressions/The Covers EP (2011)

"Nunca julgue um livro pela capa". Essa frase seguramente abriu vários artigos que tinham Mayer Hawthorne e sua música como objeto de discussão. Maroto, com uma voz enganosamente soulful, tipo Daryl Hall, o rapaz (que abriu os shows da finada Amy aqui no Brasil) é absurdamente... batuta! Fica bem evidente pela música que o moço apresentou em seu último disco (o ótimo A Strange Arrangement, de 2009) que ele é um grande admirador da velha guarda da soul music. Em Impressions ele arrebenta as pregas e dá nova roupagem a clássicos da soul/R&B gravados por artistas que vão dos bambambans The Isleys Brothers, aos menos conhecidos The Festivals e os rockeiros britânicos do Electric Light Orchestra. É uma phina seleção de seis faixas, disponibilizadas de grátis na época do seu lançamento (maio deste ano) ná página oficial da gravadora do cara. Soul, honestíssimo, de verdade. ;D

Serviço:

Impressions/The Covers EP (2011)

1. Work To Do (Isley Brothers)
2. Don't Turn The Lights On (Chromeo)
3. You've Got The Makings Of A Lover (
The Festivals)

4. Fantasy Girl (Jon Brion)
5. Little Person (Steve Salazar)
6. Mr Blue Sky (Electric Light Orchestra)

22 de agosto de 2011

20 de agosto de 2011

[trailer] Carnage (2011)

Ontem pousou na rede o primeiro trailler de Carnage, novo longa de Roman Polanski. Como primeira impressão, impossível não notar o tom cômico da produção.

O elenco de peso é formado por Jodie Foster, John C. Reilly, Christoph Waltz e Kate Winslet.

Super 8

- Ããããããhn...

























Ainda que o nome de Steven Spielberg não fosse creditado ao final de Super 8, seria figurinha fácil em rodinhas de conversas sobre o filme: a nova produção do criador da série LOST, J.J. Abrams, é uma nostálgica mistura que não se envergonha em admitir de forma bastante clara que bebe muito da fonte de filmes consagrados do diretor norte americano. A bem da verdade, Super 8 é uma ode à infância de muita gente, onde a nostalgia possui um papel importantíssimo em todo o contexto. É ela o grande catalisador, quem traz à tona todas as lembranças de infância (afinal, quem foi que não se identificou e lembrou do tempo em que passava junto aos amigos, numa época em que ninguém sabia o significado da palavra responsabilidade?). Prum cara de quase trinta, como eu, Super 8 faz lembrar de E.T.Os Goonies (que também teve Spielberg só como produtor) e Jurassic Park (a cena do ônibus escolar com as crianças em polvorosa, hein?). O elenco infantil em ótima sintonia, o clima de tensão que paira sobre todo o filme e a pontuação com a trilha sonora perfeita somadas a uma ótima edição fazem de Super 8 um bom filme, com elementos de sobra que o fariam maior ainda.

4 de fevereiro de 2011

On The Road e Capitão América




Estas são as primeiras imagens do novo longa de Walter Salles. O diretor do também road movie Diários de Motocicleta está no comando da adaptação do clássico beat de Jack Kerouac, On The Road. Nas fotos, Kristen Stewart, Garret Hedlund e Sam Riley.

O elenco ainda conta com nomes interessantes como o de Viggo Mortensen e Steve Buscemi.

Há uma expectativa, principalmente por gostar da direção de Salles, e mais ainda por gostar do dinamismo despretensioso do livro de Kerouac.

As fotos foram divulgadas ontem pelo site francês Comme au Cinema.

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Editando o post, a Marvel divulgou em seu site oficial o primeiro cartaz de Capitain America: The First Avenger.

E eu que não fui muito com a cara do uniforme no início, começo a mudar de idéia. ;D

28 de janeiro de 2011

Black Swan


Black Swan (Cisne Negro, de Darren Aronofsky, 2010)

Pensando aqui com os meus botões... o balé não é tão diferente da luta livre, não é mesmo? Os dois são meticulosamente coreografados, exigem um enorme esforço físico e possuem o estranho poder de destruição – e talvez a única diferença seja que o primeiro possui artistas fisicamente menores e quase sempre uma música muito melhor. E é quase impossível não assistir ao novo filme do diretor Darren Aronofsky, Black Swan -- um thriller fantástico sobre os bastidores de uma companhia de ballet profissional em Nova York --, como um complemento para o seu último filme, The Wrestler – o ótimo melodrama sobre os bastidores das competições de luta livre --, tendo Natalie Portman atuando como uma versão pocket de Mickey Rourke (apenas na questão física, que fique claro).

Visualmente falando, Black Swan também possui muito de seu irmão mais velho: a hand-cam, a fotografia granulada em 16mm, o uso freqüente da câmera nas costas, sempre acompanhando os movimentos de seu protagonista, assim como o olhar voyeur, e as partes de um desempenho que quase nunca é mostrado: as dores insuportáveis, as lesões, o sofrimento -- figuras que são uma constante nos bastidores de produções desse tipo. Existem também semelhanças temáticas evidentes, como a obsessão do indivíduo pela realização de uma performance perfeita. Mas, no caso da Nina de Natalie Portman -- retirada das bases da companhia para ter a chance de dançar o papel principal de A Rainha dos Cisnes em O Lago dos Cisnes, de Tchaikovsky --, fica mais que evidente que é a sua mente seu principal inimigo, não o seu corpo.


Aronofsky cria um tipo de representação visual de medo do palco e de ansiedade do desempenho que toma corpo. E não bastasse tudo, Nina ainda tem de lidar com o estresse a bombardeando de todos os lados. E não falo só de sua mãe (Barbara Hershey, poderosa), absurdamente controladora, que desistiu de sua própria carreira como dançarina para erguer a da filha -- e faz questão de nunca deixá-la esquecer disso. O diretor artístico da companhia de balé, Thomas (o sempre ótimo Vincent Cassel), é também um ser bastante desprezível: um mulherengo francês que se diverte colocando a doce bailarina em situações desconfortáveis, tanto para desbloquear o lado sedutor dA Rainha dos Cisnes, o Cisne Negro do título, mas talvez, antes de tudo, para o seu próprio deleite. E aí, Lily (a linda e talentosa Mila Kunis), a bailarina baladeira, recém-chegada de São Francisco, aparece com a missão de servir de trampolim para Nina, já que a nova rival consegue expor as deficiências técnicas da protagonista por deter o tipo de sensualidade crua que a personagem de Portman teima em não deixar transparecer.

O filme é uma pequena obra-prima de crescente tensão; e é justamente dessa forma crescente e lenta (na medida certa, sem nunca se arrastar) que Aronofsky começa introduzindo seus vários dispositivos de indução ao horror: o rápido flash de um vulto em um espelho e que não deveria estar lá, o reflexo do rosto transfigurado da protagonista, cheio de olhares fugazes, a aparente deterioração física, como uma unha quebrada ou a misteriosa série de arranhões no ombro. E o diretor monta meticulosamente cada cena que envolve esses elementos, alçando tudo a um patamar maior, como um compositor que usa a sua música para dar o tom do clímax dramático. E já que falei de música, Aronofsky usa de forma sublime toda a carga dramática existente na obra original de Tchaikovsky para pontuar a própria estrutura do filme.


No papel principal, Portman nos presenteia de forma visceral com uma queda vertiginosa em direção ao insano. Há momentos em que torna-se difícil dizer onde realidade se mistura com ficção, tamanho o domínio do material que Portman detém. Tomando para ela mesma os conselhos do personagem de Cassel à Nina, a atriz entrega-se de corpo e alma a sua personagem: primeiro incorporando o tímido ‘lado branco’ com tanta proeza que a vontade que temos é a de sacudi-la na tentativa de persuadi-la a assumir algum controle ao invés de ser empurrada por todos os outros; para no final assumir de forma sublime o lado traiçoeiro e sensual do cisne negro. A atriz decidiu também por não usar substitutos em suas cenas de dança, fazendo ela mesma, e (para os olhares menos treinados) de maneira sempre competente.

Quando Nina não consegue mais enxergar volta na loucura completa, o filme torna-se um sinistro labirinto de espelhos (um ‘personagem’ sempre constante). Aronofksy sente prazer em misturar doses altas de horror psicológico à carga melodramática inerentes à historia, nos mantendo presos a todo o instante. A tensão, a música, o fio vivo da ansiedade do desempenho perfeito que conclui o filme, conversam de igual para igual com nossos medos e neuroses mais arraigados. E pode até parecer um pouco de exagero, mas se assim como Nina, você permitir-se entregar, o efeito é excitante -- uma das experiências mais psicologicamente acachapantes que eu já tive, colocando no chinelo qualquer outra que tenha tido o mesmo propósito.

Sem medo algum de errar, Black Swan é um dos melhores filmes do ano, e o meu favorito entre os indicados ao Academy Awards.

26 de janeiro de 2011

Oscar 2011



Faz muito tempo que não comento sobre a cerimônia do Oscar -- na verdade, nunca tive muito saco para fazê-lo. Não assisti a todos os filmes indicados, muito embora todos já estejam me esperando. Decidi ater-me aos indicados das principais categorias (atores, filmes e direção) e não às faltas. Quando começamos a analisar o que deveria ter sido indicado e não foi, o post normalmente fica enorme demais e rabugento demais. Entonces...

Sem muitas novidades (como todo o ano), o realmente ótimo The King's Speech' (o Discurso do Rei), como no Bafta e no Golden Globe, lidera a lista de indicações -- doze no total. Logo atrás, com dez, vem o filme dos irmãos Coen, True Grit (Bravura Indômita). The Fighter (O Vencedor) e The Social Network (A Rede Social) tiveram oito indicações cada um.

Nos indicados para direção, o grande nome é o de David Fincher, ganhador do Golden Globe por The Social Network. O páreo conta ainda com Tom Hooper, com The King's Speech', Aronofsky com Black Swan (o meu favorito) e David O. Russel, com The Fighter.

Em melhor ator, o nome disparado é Colin Firth, na pele de George IV em The King's Speech'. Apesar de ainda não ter visto Biutiful, com o sempre ótimo Javier Barden, e gostar muito de Jeff Bridges em True Grit (e que se ganhar será pelo segundo ano consecutivo, já que levou o ano passado por Crazy Heart), as minhas apostas ainda são no ator britânico.

Natalie Portaman segue firme na ponta pelo seu trabalho visceral em Black Swan. Annet Bening, do hilário The Kids Are All Right (Minhas Mães e Meu Pai) come pelas beiradas. A minha aposta vai ser sempre em Natalie Portman.

Com os coadjuvantes, Geoffrey Rush e seu excêntrico fonoaudiólogo em The King's Speech' terá uma disputa acirrada com o viciado de Christian Bale em The Fighter. Gosto da atuação de Bale, sinto uma ponta de simpatia por Mark Ruffalo, mas aposto tudo no veterano australiano.

Com as atrizes, a unanimidade recai sobre Melissa Leo em The Fighter, de fato sublime. Apesar de sempre achar a Helena Bonham Carter fantástica, e de ter gostado muito da pequena Hailee Steinfeld, fico mesmo com a massa.

Entre os filmes, o meu disparado favorito é Black Swan, apesar da utopia, já que The Social Network e The King's Speech' são os grandes apontados. Com as novas regras, os indicados a categoria de melhor filme são dez -- o que permite a alguns filmes "quase" entrar na disputa com os grandes favoritos. Toy Story 3, depois da incansável campanha, concorre também na categoria de melhor filme, mas deve mesmo acabar com a estatueta de melhor animação (onde estão também, no mesmo páreo, o ótimo e divertido How  To Train Your Dragon (Como Treinar Seu Dragão), e o estupendo drama de animação francês, do mesmo criador de As Bicicletas de Bellevile, Jacques Tati, L'illusionniste (O Mágico).

E embora não tenhamos sido indicados com filme estrangeiro (e eu estranharia se fôssemos), o Brasil está lá em uma co-produção com o Reino Unido: Lixo Extraordinário fala sobre o trabalho social que o artista plástico brasileiro radicado em Nova York, Vik Muniz, faz com os catadores de lixo do Rio de Janeiro. É um forte candidato na categoria locumentário/longa e pode sim sair no dia 27 de fevereiro com a estatueta.

O Oscar este ano será apresentado por James Franco e Anne Hataway. A premiação rola no dia 27 de Fevereiro, domingo, no costumeiro Kodak Theatre.  A transmissão na TV aberta fica a cargo da Globo; já na TV paga, o trabalho é da TNT. Ambas com tradução simultânea. O canal pago E! também está na transmissão, tradicionalmente mostrando o tapete vermelho -- esse, sem tradução simultânea. A nós, cinéfilos mortais, cabe decidir quem são os menos chatos: Rubens Ewald Filho e Cris Nicklas, ou Maria Beltrão e Zé Wilker.

Se o Kibe Loko fizer o live quinem o ano passado, eu fico com eles!

;D

♪ Post fechado ao som do álbum A Strange Arrangement, de Mayer Hawthorne.

24 de janeiro de 2011

Let Me In


(Deixe-me Entrar, de Matt Reeves, 2010)

Ah, as armadilhas da juventude! As panelinhas na escola, os picos hormonais, a busca incansável pela verdade no intuito de saber se esse ou aquele novo amigo é apenas um branquelo esquisitão, ou se ele é realmente um vampiro... WTF?! Tá, é verdade, essa última não é tão comum quanto as outras. Mas é o caso do jovem Owen, um rapazinho franzino e solitário de doze anos que faz amizade com Abby, a nova inquilina misteriosa do condomínio em Los Alamos, Novo México. Abby também tem "doze anos, mais ou menos", como ela mesma diz, em um tom enigmático. Além da idade em comum com Owen, ela cheira engraçado, anda descalça na neve, não sente frio, e é absurdamente espetacular com o Cubo de Rubik. Se tudo isso te parece mais do mesmo, é porque realmente é: Let Me In é um remake de Låt Den Rätte Komma In, a pequena obra-prima sueca, item obrigatório em qualquer listinha de dez mais de 2008/2009.

O roteirista e diretor Matt Reeves, de Cloverfield (uhum, ele mesmo), tomou como base o texto original do sueco John Ajvide Lindqvist para a adaptação (e, inexplicavelmente, mudou todo o significado do título no processo). Ainda assim, há pequenos momentos no filme em que sinto como se rolasse uma recriação shot-for-shot da irretocável versão sueca.

Como no original, o jovem Owen – raquítico e excêntrico -- é alvo fácil nas mãos dos valentões da escola (e cá pra nós, “crianças” são realmente cruéis quando querem ser), e, como reza a cartilha, sonha todas as noites com vingança. Em uma dessas noites, enquanto observa alguns vizinhos com o seu telescópio, Owen percebe a chegada dos novos moradores do condomínio --  Abby e a figura de um homem que parece ser seu pai. A partir daí, os dois pré-adolescentes iniciam uma amizade estranha – que não passa de reuniões ocasionais no playground e idas ao que parece ser um stop shop. E é quando finalmente a pacata cidade começa a contabilizar mortes estranhas, e a polícia entra no meio para investigar.


A chave para fazer do filme algo interessante recai sobre a esquisita relação entre os dois protagonistas. E como as comparações são inevitáveis... Chloë Grace Moretz – absurdamente fantástica na pele da antológica Hit-Girl em Kick-Ass - está longe da profundidade alcançada com a interpretação de Lina Leeandersson, no original. Apesar de reconhecer que é um papel quase impossível para uma jovem atriz (afinal de contas estamos falando de um ser com uma bagagem centenária presa em um corpo de 12 anos de idade). Na versão sueca, Leandersson arrebenta as pregas adotando um olhar de mil quilômetros de desespero e vulnerabilidade. Infelizmente aqui, Moretz raramente vai além do beicinho pirracento de uma garotinha travessa que guarda um grande segredo. A exemplo do seu companheiro de cena, Richard Jenkins (uma pequena mas importante peça do quebra-cabeça) que tem o seu personagem quase esquecido por conta de um roteiro que beira o medíocre.

Mas Reeves tem uma carta na manga (para a minha surpresa e felicidade), e ele atende pelo nome de Kodi Smit-McPhee. O jovem ator é absurdamente crível e consegue – aparentemente sem muito esforço – alcançar o nível de Kåre Hedebrant, o Oskar, do original. Talvez seja algo naqueles olhos azuis arregalados, ou os malares altos com o corte de cabelo esquisito que dão a impressão de vermos um menino que foi retirado do forno muito cedo. A atuação do jovem mancebo alcança níveis tão honestos de desgosto que quase vale a pena ver o filme só por ele. Quase...


Na medida em que cada frame avançava, eu tinha mais e mais certeza do equívoco que foi escolher Matt Reeves para a direção deste remake: a cabeça por trás de Cloverfield mostra realmente ingenuidade naquilo que se propõe a fazer, tanto quando nos obriga a assistir a desorientação de sua câmera na parte traseira de um ônibus escolar, quanto na tacada de mestre que foi mostrar na TV a frase "It's 10 pm, do you know where your children are?" ao mesmo tempo em que Owen se esgueira pra fora de seu apartamento para passar a noite com Abby, enquanto sua mãe dorme no sofá da sala. Não bastasse tudo, o incansável Reeves não foi capaz em momento algum de alcançar o ar de pavor e desespero que permeiam o filme sueco. Ainda que a mudança para Los Alamos seja apropriadamente fria (em todos os sentidos), nunca parece ser tão distante e desolada quanto a paisagem suburbana de Estocolmo. Mas o tiro de misericórdia vem mesmo com o uso indecente de CGI em cenas que passariam muito bem sem ele (obrigado), distanciando definitivamente o remake para anos luz do original.

Conselho de amigo: a não ser que vampiros te assustem mais que o svenska (aka língua sueca), assista ao original. ;D