A Feiz Zheng Chuan, Hong Kong, 1991. DE Wong Kar-wai. COM Maggie Cheung, Leslie Cheung e Andy Lau. 94 min. Pandora Filmes. DRAMA.

As histórias de amores de Dias Selvagens giram em torno de Yuddy (o polêmico e talentoso Leslie Cheung, que se suicidou em 2003), um playboy misógino e auto-centrado. São protagonistas delas: a inocente Su Lizhen (Maggie Cheung), balconista de um estádio , e a temperamental Mimi (Lau), dançarina de cabaré. Mimi crê piamente ser a única mulher capaz de domar o espírito de Yuddy, que acaba de sair dum relacionamento frustrado com Su - que por sua vez ainda tenta se recuperar do "tombo". Em contrapartida, Mimi não parece que irá se sair melhor, especialmente quando Yuddy descobre não ser filho de quem ele pensava ser, e do fato de sua mãe adotiva se recusar a divulgar o nome da verdadeira. Yuddy - com seu comportamento frente às mulheres justificado por ter sido criado por uma prostituta -, perde seu centro, sua estrutura, e agora orbita sozinho em torno desse pólo invisível, novo. Sua obsessão acaba se tornando sua mãe – como Su Lizhen torna-se a obsessão do policial Tide (Lau) e Mimi, a obsessão de Zeb (Jacky Cheung), único amigo de Yuddy.
O mais importante, no entanto, é a presença quase que sufocante do tema 'amor não realizado' - e aí talvez Dias Selvagens seja o longa mais radical do diretor. Nenhuma das histórias que o filme conta (numa estrutura que chega a lembrar Quadrilha, de Drummond, com um personagem que ama outro que ama outro...) parece jamais caminhar pruma possibilidade minimamente realizável de relação amorosa. Mas do que um pessímismo, o que vemos no cinema de Kar-wai é uma, digamos, idealização (inclusive estética) desse sofrimento por amor, algo que aproxima seus filmes de um ideal romântico do século 19, como se a maior expressão de nobreza permitida ao ser humano fosse sofrer pelo sentimento irrealizado. O cinema de Kar-wai é, antes de qualquer coisa, uma luta (embora perdida) contra a passagem do tempo, e não por acaso essas são as duas obsessões dos personagens em Dias Selvagens: capturar o sentimento de um momento específico e lutar para não ser esquecido pelo outro. "Prefiro ser odiada a ser esquecida", fala uma personagem. Com essa fita, definitivamente, Kar-wai carimbou o visto de lembrança vitalícia de sua obra na história do cinema. Imperdível.
por felipe
ao som de love or confusion, jimi hendrix.
ao som de love or confusion, jimi hendrix.